Moçambique: Samito distancia-se do partido PODEMOS
14 de maio de 2019O PODEMOS foi criado por membros da AJUDEM, uma associação ligada à FRELIMO. O descontentamento interno no seio do partido no poder impulsionou a criação do novo partido em Moçambique, como revela Albino Forquilha, membro do PODEMOS.
"Surge das bases da FRELIMO e é a continuação do que aconteceu em 2018 quando as bases da FRELIMO decidiram colocar alguém que seria apropriado para a mudança dentro da FRELIMO e este propósito não foi aceite, houve um processo anti-democrático e a vontade das bases não prevaleceu. O que fizemos foi trabalhar para que no ano seguinte pudessemos estabelecer um partido político."
A AJUDEM apoiou Samora Machel Júnior, membro da FRELIMO, a candidatar-se às eleições autárquicas de 2018 para o município de Maputo. A pretensão foi entretanto travada através de elementos de natureza formal.
Samora Machel Júnior é uma opção a considerar como candidato presidencial do PODEMOS? Albino Forquilha não hesita: "É sim, é sim."
Samito distancia-se do PODEMOS
Samito, como também é conhecido o filho do primeiro Presidente de Moçambique independente, enfrenta um processo disciplinar na FRELIMO por ter pretendido candidatar-se às autárquicas como independente e com o apoio da AJUDEM.
Esperava-se um desfecho sobre o assunto no comité central da FRELIMO no começo de maio, mas tal não aconteceu. Várias correntes já advinhavam que o caso Samito seria colocado em "banho maria" com a intenção clara de travar possíveis ambições eleitorais suas este ano.
Falamos com ele e perguntámos: Caso seja convidado a ser o candidato da PODEMOS para as presidenciais deste ano aceitaria?
"Como vou fazer uma coisa dessas? Eu sou da FRELIMO e estou na FRELIMO", respondeu Samora Machel Júnior.
E acha que há condições para continuar dentro do partido FRELIMO? "Se não houvesse já teria saído", atira.
Não há alinhamento: Há carta na manga?
Estamos, então, diante de posições antagónicas entre Samora Machel Júnior e os seus apoiantes. Será uma jogada estratégica para, por exemplo, forçar mudanças no partido no poder?
Seja qual for a motivação nessa história toda, o evidente, para o analista político Silvestre Baessa, é que Samito não se vai atirar do precipício: "Estamos a falar de eleições gerais, de um país grande, de uma grande capacidade de mobilização para cobrir este país e para concorrer. Não acho que Samora Machel Júnior a ter de se lançar estaria interessado apenas em participar, acho que ele precisaria de ter uma máquina muito melhor preparada para concorrer."
E Baessa lembra ainda que "as máquinas melhores preparadas para concorrer em eleições desta dimensão, para além da FRELIMO é a RENAMO. Pode ser que o MDM tenha construído alguma capacidade, mas isso leva tempo e não creio que esse tempo, mesmo com esses apoios internos, seja o suficiente para fazer a mudança para lhe projetar tal como ele pretende ser projetado neste processo."
Já se pode falar em cisão na FRELIMO?
Os membros da PODEMOS são todos dissidentes da FRELIMO e lutam, entre outras coisas, pela democracia interna no novo partido, a separação nítida de poderes, o combate à corrupção e a dignidade dos moçambicanos, recuperando os valores da luta de libertação nacional.
Face à fragmentação na FRELIMO e ao caso Samito, é prematuro falar em cisão, no caso histórica, no único partido que governou Moçambique até ao momento?
"É prematuro. O que vamos ter possivelmente é um determinado grupo de frelimistas omisso, não vão participar nesse processo eleitoral", responde Baessa.
E o analista diz que "é preciso lembrar o seguinte: a FRELIMO hoje é mais do que um partido, acho que a FRELIMO hoje é uma máquina que sustenta uma elite nacional a qual independentemente das diferenças que se possa ter, o que os une é o facto da FRELIMO manter-se no poder. A única forma dessa elite sobreviver, no meu entender, é com a FRELIMO no poder."