Moçambique vai construir nova barragem no rio Zambeze
22 de fevereiro de 2011A futura barragem de Mphanda Nkwuwa, que terá uma capacidade inicial para gerar 1500 Megawatts tem sido contestada por organizações ambientais, que a consideram uma ameaça, numa zona que apresenta riscos de ocorrência de sismos.
Richard Beilfus, presidente da International Crane Foundation, é um especialista que tem estudado os impatos ambientais de Cahora Bassa. Ele considera que a nova barragem de Mphanda Nkwuwa não trará impatos tão negativos como a de Cahora Bassa, mas vai acentuar os seus efeitos.
"O maior problema na bacia do baixo Zambeze é a barragem de Cahora Bassa. Por isso, penso que os impatos desta nova barragem seguramente não serão tão severos como os que foram provocados por Cahora Bassa, mas vai acentuar os efeitos, o que é importante".
As barragens têm forte impato no ambiente
Em mais de 30 anos, Cahora Bassa trouxe fortes impatos ambientais. Num estudo efectuado, Richard Beilfus e outros especialistas apontam consequências, como por exemplo a diminuição acentuada do caudal de outros rios subsidiários do Zambeze, sendo que alguns estão a secar, a alteração do habitat natural de muitas espécies, entre as quais há algumas ameaçadas e o acentuado decréscimo na produção de camarão.
Cahora Bassa atingiu recentemente o máximo de produção de 1920 megawatts. Com um investimento de 2,4 mil milhões de dólares, 1/4 do Produto Interno Bruto, Mphanda Nkwuwa deverá duplicar a capacidade de produção de electricidade do país.
De acordo com Richard Beilfus, a produção de energia é importante, mas não é tudo:
"Fizemos bastantes estudos económicos que mostram que se se gerir com uma redução na produção hidroeléctrica, balançando com benefícios da sustentabilidade do rio, então os benefícios económicos globais para o país e para a região são maiores com esta abordagem múltipla do uso da barragem, do que o seu uso exclusivo para produção de energia hidroeléctrica".
O especialista integra a Parceira Ambiental da Bacia do Rio Zambeze, que juntamente com outras entidades, está a sensibilizar as autoridades e operadores das barragens para a necessidade duma visão integrada do rio.
"Começamos a trabalhar de forma estreita com as operadoras das barragens, nos últimos dois anos, para nos compreendermos. Acredito que elas também querem fazer o que for melhor para a bacia do rio. Estão a abrir-se a esta abordagem integrada. O meu objectivo é que se tiverem esta visão, então a partir daí poderá decidir-se onde é que se devem localizar as barragens, onde devem ser as áreas reservadas à pesca ou à biodiversidade".
Maior investimento em Moçambique nos próximos anos
Em Junho deverá ser publicado o estudo de impato ambiental da nova barragem. E o início da construção está já previsto para o próximo ano. O consórcio que fará este investimento, um dos maiores em Moçambique, é formado pela construtora brasileira Camargo Correa, com 40% do capital e pela Insitec (igualmente 40%), empresa apontada como sendo do chefe de estado moçambicano Armando Guebuza. A empresa pública de electricidade de Moçambique é a sócia minoritária, com 20%. O investimento nos próximos anos rondará os 2.500 milhões de dólares, ou seja cerca dum quarto do produto interno bruto do país. As obras deverão começar no próximo ano e estar concluídas dentro de 6 anos.
Autor: Glória Sousa / Carlos Martins
Revisão:António Rocha