Moçambique é o país africano mais ameaçado pelas alterações climáticas
29 de novembro de 2011Estão ainda bem vivas as imagens do ano 2000: pessoas desesperadas, cercadas de água, em cima dos telhados das suas habitações e nos ramos das árvores. Nessa altura morreram cerca de 700 pessoas.
Repetidamente, este tipo de catástrofes atinge Moçambique. Com as alterações climáticas, são cada vez mais frequentes situações extremas como chuvas diluvianas. Um cenário perturbador para Moçambique, país atravessado por grandes rios, como o Limpopo, o Save e o Zambeze.
De acordo com o Índice de Risco Climático 2012 da ONG germânica Germanwatch, no continente africano, Moçambique é, de longe, o país mais ameaçado pelas alterações climáticas. Desde há muito que são reconhecidas as ameaças e riscos climáticos atuais e futuros que Moçambique enfrenta. A nível mundial o país situa-se no décimo nono lugar dos países em risco.
Porém, o país conhece alguns progressos. Apesar de nos últimos anos as chuvas terem tido níveis de precipitação elevados, as cheias causaram muito menos vitimas do que no catastrófico ano 2000. Em parte este resultado deve-se à bem sucedida cooperação entre a Sociedade Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ) e o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) de Moçambique.
Parcerias locais contra as cheias
Esta parceria desenvolveu comités locais de prevenção nas vilas e aldeias mais afetadas. Foram instalados instrumentos de medição, como refere Julia Olivier da GIZ. "São selecionados os locais onde pode ser observada a subida das águas e determinar em que ponto essa subida pode representar perigo. Nalguns casos isto implica a adoção de complexas soluções técnicas. Quando a água sobe até um determinado ponto é instalado em casa de cada pessoa afetada um dispositivo sonoro que emite um sinal de aviso. Assim a pessoa sabe que deve avisar os vizinhos.”
Porém, os comités locais de assistência em situações de catástrofe não integram apenas pessoas encarregadas de acionar os sinais de alarme."As equipas integram igualmente pessoas responsáveis pelas soluções de evacuação. A GIZ cartografou mapas e definiu exatamente quais as zonas mais ameaçadas pelas cheias. Indicou também quais os locais mais altos onde as pessoas se podem refugiar. Então, as pessoas juntam-se em escolas e hospitais localizados nas zonas altas".
Menos mortos apesar das cheias
Apesar das cheias, a maioria das pessoas conseguiu refúgio em locais seguros. Julia Olivier diz que a atual melhoria da segurança se deve ao novo sistema."De fato provou ser eficaz. Há muito menos vítimas e muito menos mortos. Analisando dados de 2008 e 2011 é significativo o número de pessoas que puderam ser evacuadas com este sistema de prevenção de riscos. Portanto penso que é um grande sucesso.”
A subida do nível do mar ameaça a segunda maior cidade moçambicana
Todavia, os problemas de Moçambique não estão apenas relacionados com as chuvas cada vez mais intensas que provocam cheias nos rios moçambicanos. Na província de Gaza, no sul do país, e em Tete, no interior norte, em contrapartida, as alterações climáticas estão a aumentar os casos de seca e falta de água. Por outro lado, o aquecimento global faz subir o nível da água do mar.
A longo prazo, este é um problema que agrava ainda mais a situação moçambicana. Julia Olivier explica "Moçambique tem uma costa marítima muito extensa. Por outro lado, possui zonas do território que estão menos 20 metros acima do nível do mar. Por isso, a erosão das regiões costeiras é um tema muito importante. Diz-se que, até 2040, Moçambique poderá perder cerca de 0,6 por cento de território junto à costa. Cerca de um milhão de pessoas poderão ter de ser realojadas.”
Mesmo a Beira, no centro do país, a segunda maior cidade do país, com cerca de meio milhão de habitantes, irá ser afetada pela subida do nível dos oceanos. Neste momento já são visíveis os efeitos da erosão costeira nesta cidade. Quarteirões inteiros poderão desaparecer.
Em parte, erros no planeamento urbano contribuíram para esta situação. Alguns quarteirões foram construídos em mangais fato que afetou a proteção das plantas. Mas este problema é mais grave. "Na Beira, existem grandes problemas de drenagem. Apesar dos sistemas de escoamento que foram implantados, o problema das cheias e das vazantes mantém-se. Parte das águas da cidade não é escoada. Com as alterações climáticas, que aumentam as precipitações extremas e fazem crescer a variabilidade, então torna-se mais difícil que essas águas sejam escoadas.”
Moçambique é um dos países que menos contribui para o aquecimento global, mas é um dos mais atingidos pelas mudanças climáticas. Um moçambicano produz em média, por ano, 0,1 toneladas de dióxido de carbono. Ou seja, comparativamente, um alemão contribuiu cem vezes mais por pessoa para o aquecimento global do que um moçambicano. Mesmo os habitantes da vizinha África do Sul contribuem per capita 70 vezes superior ao registrado por um moçambicano médio.
Autor: Johannes Beck
Edição: Pedro Varanda de Castro / Helena Ferro de Gouveia / António Rocha