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Mudanças no MPLA: Um congresso de sonho para João Lourenço?

José Adalberto
18 de dezembro de 2024

O bureau político do MPLA tem uma nova composição, aprovada ontem no VIII Congresso Extraordinário. João Lourenço justificou que é preciso rejuvenescer o partido no poder. Analistas desconfiam de uma segunda intenção.

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Cartaz com a foto do presidente do MPLA, João Lourenço, na sede do partido, em Luanda
João Lourenço cumpre o segundo e último mandato na Presidência da RepúblicaFoto: Borralho Ndomba/DW

A palavra de ordem no congresso do MPLA, esta semana, foi "rejuvenescer". Segundo o líder dos camaradas, João Lourenço, estava na hora de uma mudança no bureau político, que premiasse "aqueles que trabalham".

"O mérito é sempre reconhecido àqueles que trabalham, não precisam ser eles a dizer que [sou um bom quadro, sou bom político], mereço o lugar A ou o lugar B. É o mérito de ser reconhecido pelos outros", afirmou João Lourenço.

Será mesmo assim?

As mudanças envolveram pesos-pesados no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

De saída estão Luísa Damião, ex-vice-presidente do partido, Álvaro de Boavida Neto, antigo secretário-geral, e Eugénio Laborinho, que cessou funções, recentemente, como ministro do Interior.

Quanto às "premiações", Mara Quiosa, até então governadora da província do Cuanza Sul, assumiu o cargo de vice-presidente do MPLA. Nádia Monteiro passa a tratar da administração e finanças no bureau político.

Congresso do MPLA em Luanda, a 16 de dezembro de 2024
Mudanças no bureau político favorecem João Lourenço, consideram analistasFoto: Borralho Ndomba/DW

Para o analista político Manuel Cangundo, as trocas não têm tanto a ver com o "rejuvenescimento" do bureau político. Seriam mais uma jogada no xadrez interno, afastando algumas figuras de proa dos órgãos de decisão e reforçando a posição de João Lourenço.

"Não podíamos encarar este ato de outra forma senão como uma forma de retaliação, um castigo, um fechar de portas", diz Cangundo. "É uma forma de isolar todas as pessoas que pensam diferente para uma zona completamente desconfortável para elas, deixando-as sem poder de influência."

Um "congresso de sonho" para João Lourenço?

Em alguns círculos do congresso extraordinário do MPLA, chegou a ser ventilada a hipótese da indicação de nomes como Higino Carneiro, um potencial candidato à liderança do partido, ou Julião Mateus Paulo "Dino Matrosse", uma das vozes mais críticas à gestão de João Lourenço, para entrar no bureau político.

Mas o politólogo Agostinho Sicato considera que isso era quase impossível, tendo em conta as aspirações e as posições públicas dos dois dirigentes. "O Presidente João Lourenço encontrou uma oportunidade para afastar as vozes antagónicas. Ele precisava conformar o partido à sua medida", resume Sicato.

Há outra decisão que saiu do congresso que poderá favorecer João Lourenço.

RADAR DW: Novas províncias vão atrasar mais as autárquicas?

Os estatutos do MPLA foram alterados, permitindo ao líder dos camaradas continuar no cargo, mesmo tendo de deixar a Presidência da República, em 2027. Isto porque, segundo os novos estatutos, não é preciso chefiar o partido para ser candidato a Presidente da República.

Cândida Narciso, ex-governadora da província da Lunda Sul e membro do Comité Central do MPLA, rebate as críticas.

Ouvida pela DW África, a dirigente dos camaradas salienta que as mudanças no bureau político não passam de um ajuste ao novo contexto político no país e refletem a necessidade de se introduzir "sangue novo" nas estruturas do partido.

"O nosso partido é dinâmico", refere. "Encaro isto com naturalidade e tem de ser assim."

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