Mulheres guineenses querem maior presença nos centros de decisão
24 de março de 2014Mais de metade dos habitantes da Guiné-Bissau são mulheres. Porém, entre os decisores políticos, só 10% são mulheres, segundo indicadores das Nações Unidas. São os homens que continuam a tomar as grandes decisões no país.
Esse é um cenário que as mulheres guineenses querem ver alterado. A menos de um mês das eleições gerais, as mulheres reclamam maior representação nas esferas de decisão da Guiné-Bissau, tanto no Parlamento como também no futuro Governo a ser formado logo depois do escrutínio.
Senegal é exemplo
Na semana passada, diversas entidades promotoras da igualdade de género lançaram um estudo sobre a participação das mulheres na política e tomada de decisões no país. Segundo o representante das Nações Unidas em Bissau, essa participação está em declínio, ao contrário do que acontece noutros países africanos.
Na "Guiné-Bissau está a 10%", indicou José Ramos-Horta. "Creio que o Senegal lidera em todo o mundo, porque nunca ouvi falar num país que tenha 50% de paridade no Parlamento. Por isso, que a experiência do Senegal sirva de incentivo."
A maior percentagem de mulheres na Assembleia Nacional Popular foi alcançada em 1988-94, período em que atingiram 20% dos assentos, de acordo com a ONU.
Eleições, oportunidade de mudança
Na opinião das organizações não-governamentais, as eleições presidenciais e legislativas de 13 de abril devem constituir uma oportunidade para os atores políticos e sociais estabelecerem um compromisso sério com as questões da igualdade de género. As organizações dizem que é preciso mudar o cenário político actual e pedem mais mulheres nos centros de decisão política. Mas também há quem esteja cético, apontando, por exemplo, para as listas dos candidatos a deputados, com poucas mulheres.
Ao todo, no estudo foram deixadas 17 recomendações ao Estado, às organizações e redes de mulheres e aos organismos de cooperação sobre o que fazer para inverter o cenário.
Alterações legislativas, linhas de financiamento exclusivas para mulheres, criação de observatórios sobre mulheres, organização de fóruns e redes associativas foram algumas sugestões, disse Silvina Tavares, vice-presidente da Plataforma das Mulheres guineenses.
"É chegada a hora de eleger um corpo gestor capaz de promover a necessária sinergia entre mulheres na construção da paz, nos processos políticos nacionais, na reconstrução nacional e desenvolvimento", afirmou.
O estudo "A participação das mulheres na política e na tomada de decisão na Guiné-Bissau" inclui uma resenha histórica sobre o papel da mulher na História do país e destaca o apelo à participação das mulheres em todos os níveis da luta pela independência - um apelo à intervenção pública que nunca mais se repetiu.