Mulheres rurais de Moçambique querem mais apoio
19 de maio de 2014
Surgem mais vozes em Moçambique a reclamar maior participação no desenvolvimento do país, desta vez do Movimento das Mulheres Rurais. Elas insurgem-se contra as políticas e estratégias de desenvolvimento da agricultura do Executivo moçambicano que, dizem, não estão a vingar no país.
O Movimento queixa-se que vários programas desenhados pelo Governo, no sector da agricultura (como investigação, extensão agrária, irrigação, produção de alimentos), não contemplam a mulher rural.
Contudo, a maior parte da população moçambicana é representada por mulheres. “A mulher rural é símbolo da determinação e de luta contra a fome e pobreza” em Moçambique, sublinha Saquina Mucavel, diretora executiva do Movimento das Mulheres Rurais.
“Não obstante as forças adversas da natureza, a mulher continua a ser a espinha dorsal da agricultura familiar e de pequena escala, base sustentável da segurança alimentar e nutricional”, acrescenta Saquina Mucavel.
Devido à falta de apoios, mulheres procuram alternativas
As mulheres rurais afirmam ter várias iniciativas visando combater, principalmente, a fome no país. Nesse sentido, é fundamental a colaboração estreita com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura: a FAO tem estado “lado a lado com o Movimento Moçambicano das Mulheres Rurais para erguer bem alto o estandarte desta trabalhadora da terra, sem a qual nenhum prato iria fumegar nas nossas mesas a cada dia que passa”, afirma a diretora Saquina Mucavel.
Elogiando seu papel, Saquina Mucavel diz que a FAO “desde muito cedo compreendeu o valor e a importância da mulher quer na agricultura quer para o desenvolvimento rural integral e sustentável assim como para a redução da fome”.
O Movimento das Mulheres Rurais, que congrega várias organizações de camponeses, quer que haja uma eficaz rentabilização dos recursos disponíveis para a produção agrícola.
Por falta de apoios, muitas camponesas acabam por se dedicar a outras formas de negócio como acontece com Elina Macuacua. “Por causa de dinheiro, de sofrimento, estou a vender. Tenho de cuidar da minha vida”, justifica a responsável de uma organização de camponeses em Gaza, sul de Moçambique.
Governo diz que é preciso responder às necessidades
O Governo diz estar ciente dessas necessidades e reconhece que as camponesas têm acesso limitado aos mercados e serviços de extensão agrária, por exemplo. Jossefa Langa, do Ministério da Mulher e Ação Social, aponta que a prioridade deverá ser o acesso à terra e providenciar maior contacto entre as próprias camponesas e outros círculos sociais, políticos e económicos.
A representante do Executivo considera “necessário fortalecer as capacidades em orçamentação sensível ao género e alocar cada vez mais recursos para a implementação de políticas e de programas que respondam às necessidades das mulheres. Deve ser dada prioridade à consciencialização das mulheres sobre os seus direitos, à aplicação da legislação e ao aumento do acesso das mulheres à assistência jurídica”.
Jossefa Langa argumenta que a mulher rural deve ainda ter mais acesso à educação e ao crédito bancário.
A educação “gera benefícios económicos, oportunidades de emprego e facilita a participação das mulheres na vida pública. No entanto, as áreas rurais são muitas vezes caracterizadas pela falta de acesso à educação e formação e o analfabetismo continua alto entre as mulheres rurais”, acrescenta a representante do Ministério da Mulher e Ação Social.
Várias políticas para o empoderamento das mulheres rurais têm sido várias vezes debatidas mas poucas vezes implementadas. Este facto continua a colocar a mulher em níveis inferiores da cadeia de valores da agricultura.