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Muros em África com dinheiro europeu

Jutta Schwengsbier | ac
15 de dezembro de 2016

A UE pretende canalizar verbas da ajuda ao desenvolvimento para empresas de armamento, a pretexto de aumentar a segurança nas fronteiras entre os países africanos, revela o jornal alemão TAZ.

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Foto: picture-alliance/dpa

Muito se tem falado do denominado "Plano Marshall" para África. Mas 24 jornalistas internacionais investigaram o assunto e chegaram à conclusão de que os critérios para a atribuição de ajuda ao desenvolvimento, segundo esse plano, estão a mudar radicalmente na Europa.

Em vez de terem de provar que respeitam a democracia e os direitos humanos, os países africanos terão futuramente de provar que são capazes de controlar as suas fronteiras, construindo muros e impedindo a emigração ilegal, segundo uma investigação a ser publicada no jornal alemão TAZ, a que a DW África teve acesso. Se esse critério não for respeitado, a União Europeia (UE) deixaria de os considerar merecedores de verbas de apoio ao desenvolvimento.

O dinheiro que a UE promete aos países africanos, alegadamente para que estes possam combater as causas da emigração ilegal, é dirigido diretamente para contas de empresas de armamento, sobretudo da Alemanha, afirma Ulrich Delius, perito em questões africanas da organização não-governamental alemã "Sociedade para os Povos Ameaçados".

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Ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, folheia estudo sobre migração e um "Plano Marshall" para África em novembro de 2016Foto: picture-alliance/Sebastian Gol

"Plano Marshall" para regimes autocráticos

"O denominado 'Plano Marshall' é um puro engano", afirma Delius. "Aqui, quando ouvimos o termo, pensamos na reconstrução económica da Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Mas, neste caso, o que acontece não é a reconstrução da economia africana, mas um apoio maciço às empresas europeias de armamento."

Ulrich Delius teve acesso aos documentos que provam estas acusações. Ele é a favor de que os documentos sejam publicados, inclusive em meios de comunicação social africanos, para que uma pressão contra esta politica possa surgir também no continente. O jornal alemão TAZ preparou um dossier com o título "Livre circulação para a Europa, muros e fronteiras altamente protegidas para África".

O investigador chama a isso um "absurdo" - "É, de facto, um absurdo que a Europa apoie com um denominado 'Plano Marshall' regimes autocráticos e ditaduras. A Europa deixou de pensar em apoiar a democratização, os direitos humanos e a sociedade civil."

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Segundo Delius, há agora duas prioridades: obrigar os países africanos a construir muros "para evitar que os seus cidadãos fujam para a Europa" e forçá-los a readmitirem os cidadãos que não forem aceites em território europeu.

"É esse o critério", diz. "Só assim é que os países africanos poderão futuramente contar com ajuda ao desenvolvimento. Isso é uma autêntica traição e negação de todos os princípios sobre como promover o desenvolvimento, a democracia e os direitos humanos em África."

Só alguns beneficiam

O plano é, pois, construir muros seguros e intransponíveis em África, com a ajuda da alta tecnologia europeia. Quem beneficiará com estes projetos? Em África, poucos; e, na Europa, beneficiam as grandes empresas da indústria da guerra, salientam os correspondentes em África que pesquisaram o assunto.

"Nós, jornalistas, quisemos saber: Quem constrói muros fronteiriços na Europa? E verificámos que os maiores fornecedores desse tipo de produtos são as próprias empresas de armamento", explica Simone Schlindwein, correspondente do jornal TAZ.

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Ex-ministro alemão, Dirk NiebelFoto: DW/T.Ecke

Uma das maiores firmas, "provavelmente a maior, é a Rheinmetall, da Alemanha. Uma empresa que construía carros blindados de guerra e agora passou também a produzir muros fronteiriços e a respetiva tecnologia de controlo de fronteiras. Verificámos também que o maior lobista dessa empresa alemã é Dirk Niebel, ex-ministro da Cooperação, que, quando estava no Governo alemão, lançou precisamente a ideia de construir muros de controlo fronteiriço um pouco por todo o continente africano."

Schlindwein pertence ao grupo de 24 correspondentes internacionais que investigaram o assunto em 37 países e recolheram inúmeros documentos que provam precisamente que a política de desenvolvimento da UE deixou, na prática, de ser o que era.