Museu revela 300 anos de história da migração na Alemanha
27 de abril de 2013Inaugurada em 2005, o "Deutsches Auswandererhaus" ou a "Casa Alemã dos Emigrantes" em tradução livre, em Bremerhaven, no norte da Alemanha, dedicou-se inicialmente apenas à história daqueles que deixaram a Europa para viver no exterior.
Desde abril de 2012, a imigração para a Alemanha também se tornou um tema deste museu. O "Deutsches Auswandererhaus" tem uma nova exposição permanente, com base em 15 histórias de vida de imigrantes, a partir dos tempos de fome, há cerca de 300 anos, até hoje.
Estados Unidos foram destino de muitos
Num ambiente que reproduz a estação ferroviária Grand Central Station de Nova Iorque, lugar para chegadas e partidas, os visitantes podem vivenciar onde e como os migrantes europeus se estabeleceram nos Estados Unidos e de que trabalhos se ocuparam, explica Ilka Seer, porta-voz do museu.
Um dos emigrantes retratados é Ottmar Mergenthaler, da região da Suábia, no sul da Alemanha. Em 1872, entrou num navio no porto alemão de Bremerhaven na direção de Baltimore, de onde seguiu para Washington, ambas no leste dos Estados Unidos.
Em uma estação de rádio, um ator revela a trajetória posterior de Mergenthaler. "Ao contrário de milhões de emigrantes, um futuro seguro espera por Ottmar Mergenthaler. O jovem de 18 anos tem na manga hospedagem garantida e, acima de tudo, um emprego permanente na fábrica de seu primo August Hahl", conta o narrador.
Seis anos mais tarde, ele se torna cidadão americano e inventa, entre outros, um processo melhor de impressão.
"Bem-vindo à Alemanha"
Uma ponte liga a Casa dos Emigrantes Alemães à nova exposição sobre a imigração, que ocupa um prédio anexo e ganhou o nome "Bem-vindo à Alemanha".
A construção tem uma área de cerca de mil e cem metros quadrados e custou quatro milhões e meio de euros.
"Lá acontece praticamente uma mudança de perspectiva. Ou seja, não acompanhamos agora os emigrantes alemães para o Novo Mundo, mas o imigrante que veio para a Alemanha", revela Ilka Seer.
Vendedor de gelados italianos
A porta-voz do museu mostra o exemplo do imigrante Silvio Olivier, cuja família viajou da Itália para o sul da Alemanha, já no início do Século XX para vender sorvete com a sua carreta nas ruas. Numa reportagem de rádio, é apresentada a história dos Olivier: "Fundador da tradição de fabricar sorvetes na família é o avô de Sílvio, Valentino, nascido em 1845, em Zoldo di Forno, na Itália".
Silvio, nascido em 1907, emigrou quando jovem, primeiro para a região da Alsácia (até o fim da Primeira Guerra Mundial a Alsácia ainda era alemã, depois passou a ser francesa). Quis aprender com seu tio, o ofício de fabricar sorvete. Mais tarde, mudou-se para a Saxônia no leste da Alemanha, onde abriu sua primeira sorveteria.
Mas nos tempos da RDA, regime comunista da Alemanha Oriental quando o país ainda era dividido, os negócios passaram por dificuldades. "Sempre houve escassez de matérias-primas, de modo que ele não pôde produzir o sorvete. Então, durante este tempo, ele trabalhou cortando cabelos", revela Ilka Seer.
Objetos pessoais em exposição
Ao lado dos utensílios de cortar cabelos estão expostos o avental de Silvio, uma taça de sorvete com colher original, seu passaporte e um velho álbum de fotografias antigas.
Um menu de sorvete é também uma reminiscência de seu negócio, que existe desde 1950 em Wolfsburg, no centro da Alemanha.
Na exposição, a sorveteria está localizada em um centro comercial decorado com papéis de parede retrô, logotipos e lojas que remetem à década de 70. A ela também pertence um quiosque.
Todos os jornais são datados de 24 de Novembro de 1973 que, segundo Ilka Seer, é o dia depois do dia em que o governo alemão decidiu parar a contratação de trabalhadores estrangeiros. "As manchetes são, naturalmente, muito fortes", diz.
Para Ilka Seer, porta-voz da Casa dos Emigrantes Alemães, por meio das coisas pessoais dos imigrantes a vida deles pode ser descoberta. Um par de calças, onde está pendurada a foto de uma mulher vietnamita, seria a indicação do trabalho dela: "ela deveria trabalhar em um hotel em Rostock, mas trabalhou em uma grande cantina e à noite remendava Jeans (calças de ganga), porque ainda tinha de ganhar algum dinheiro extra", revela Seer.
Conquistas dos imigrantes merecem reconhecimento
Com base em 15 perfis, revelam-se 300 anos de história da imigração para a Alemanha.
Com a exposição, a diretora Simone Eick quer despertar a curiosidade sobre as pessoas que, em parte, já vivem há tanto tempo na Alemanha, e com frequência permanecem excluídas. "Acredito que vivemos em um país que trata a imigração de forma quase rude, que sobretudo não se dedica a essa história", opina a diretora.
Isso seria uma vergonha para um país do centro da Europa, onde sempre existiu imigração. Mas, mesmo depois da exposição, alguns visitantes ainda não se deram conta disso.
"Isso não nos interessa tanto, porque não temos relação com isso", diz uma mulher. "Naturalmente, vimos como os trabalhadores vieram, disso me lembro bem. Mas o que particularmente nos interessou foi a emigração", opina outro visitante.
Mas há também uma parte do público que se esforça por compreender este capítulo da história. Uma estudante diz que se interessou pela emoção que é transmitida por meio dos objetos."O que veio de lá e que as pessoas também tinham esperanças. Isso se pode ver nos escritos antigos e assim se pôde ver muito bem", afirma.
Além das histórias pessoais dos migrantes, a exposição conta ainda, em cabines de telefone antigas, as diferentes estações da imigração para a Alemanha e também os eventos políticos a elas associados.
Por exemplo, entre os anos de 1990 e 2010, vieram para a Alemanha principalmente expatriados russos e refugiados da guerra civil da Iugoslávia.
A diretora do "Deutsches Auswandererhaus", Simone Eick, espera que juntamente com as duas exposições os visitantes saiam com uma boa visão geral da migração na Alemanha. "Famílias de imigrantes já ostentam uma mobilidade social extremamente alta. Isto significa que a ascenção na sociedade é algo que se busca absolutamente e que é materializado", conclui.
Autoras: Kathrin Erdmann / Cristiane Vieira Teixeira
Edição: Johannes Beck