Milhares de pessoas em risco de fome em Moçambique
22 de março de 2021Anita Gopane Sabão vive em Tambara, em Manica, no centro de Moçambique, e admite estar a passar fome. "Estamos a passar mal em Tambara. As culturas da primeira época foram destruídas por causa das águas dos rios. Nós cultivámos nas baixas dos rios, por causa da humidade, porque nas zonas altas não há boa produção", relata a camponesa que pede apoio alimentar às entidades governamentais ou humanitárias.
As condições atmosféricas pouco abonatórias para a prática agrícola afetaram principalmente as culturas de milho e feijão. Dos 37 mil hectares de área semeada, cerca de 500 foram severamente afetados.
"Cerca de seis mil e setecentas [pessoas] poderão passar fome durante quatro meses, a partir de março até junho, devido à chuva irregular que afetou severamente as culturas de milho e feijão-nhemba, pois a cultura de milho nessa altura estava na fase de floração", adverte Fernando Kingston, diretor dos Serviços Distritais de Atividades Económicas (SDAE) de Tambara.
Uma solução?
Segundo Fernando Kingston, a população de Tambara ainda poderá compensar a falta de milho e feijão com a colheita de gergelim. Trata-se de uma cultura de rendimento, com mercado garantido, e da qual os produtores podem obter algum dinheiro.
Em relação à segunda época, o diretor do SDAE em Tambara frisa que tudo está a ser acautelado para melhorar a produção e garantir a segurança alimentar para os meses que se seguem.
"A população poderá recorrer à venda da produção para fazer face a esta seca. Também haverá a colheita da produção da segunda época uma vez que agora estamos a sensibilizar a população para a abertura ou aumento das áreas de cultivo na baixa e intensificar a irrigação através de motobombas", explica.
Apoio internacional
Devido à situação difícil das populações nesta região de Manica, o setor está a trabalhar junto da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), no sentido de adquirir 40 toneladas de sementes diversas, com destaque para o milho, hortícolas diversas e o feijão vulgar.
Para a presente campanha agrária, o distrito planificou produzir cerca de 8 mil toneladas de culturas diversas, numa área de 580 hectares.
Na primeira época da safra deste ano 2020/2021, foram semeados 37 mil hectares para uma produção de 58 mil toneladas de culturas diversas, contra uma produção da safra passada (2019/2020) de 72.020 toneladas de cultura diversa, numa área de 48 mil hectares.