Na Etiópia, Presidente eritreu promete consolidar a paz
14 de julho de 2018O presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, chegou à capital etíope apenas cinco dias depois que o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, visitou a Eritreia - como parte de um processo de paz que visa acabar com anos de violência e animosidade entre os vizinhos que antes faziam parte da mesma nação.
Abiy e Isaias compartilharam risadas e abraços em um almoço oficial este sábado, quando o líder etíope disse que sua contraparte era "amada e respeitada pelo povo etíope".
"Este é um dia histórico para todos nós. Quem pensa que o povo da Eritreia e da Etiópia estão separados é considerado ingênuo de agora em diante ", declarou Isaias. "Nós vamos avançar juntos," acrescentou.
Isaias começou sua visita de três dias no aeroporto de Adis Abeba, onde ele e Abiy caminharam pelo tapete vermelho, numa atmosfera festiva.
Em seguida, os dois líderes dirigiram-se para a cidade por uma estrada ladeada por milhares de pessoas vestidas de brancos e a abanar folhas de palmeiras, um símbolo da paz.
Na passada segunda-feira (09.07), os dois líderes assinaram um documento declarando o fim oficial da guerra.
"Bem-vindo a casa, Presidente Isaias!" escreveu no Twitter o chefe de gabinete de Abiy, Fitsum Arega, quando o líder da Eritreia chegou.
"Alguém pode encontrar palavras apropriadas para descrever a intensidade das emoções populares que atingiram os dois países, a profundidade e o significado das promissoras mudanças em curso na região?" escreveu no Twitter o ministro da Informação eritreu, Yemane Gebremeskel.
A emissora estatal etíope, Fana Broadcasting Corporate, disse que Isaias ficaria três dias, durante os quais a embaixada da Eritreia seria reaberta e sua delegação visitaria um parque industrial.
Um jantar de Estado em sua homenagem será realizado no domingo (15.07).
Histórico do conflito
A Eritreia fazia parte da Etiópia até 1993, quando declarou independência após um referendo.
A mudança deixou a Etiópia sem litoral e a deterioração das relações após o início da guerra em 1998 forçou Adis Abeba a canalizar seu comércio marítimo através do Djibuti.
Os dois países mostraram poucos sinais de reaproximação desde a assinatura do acordo de paz de Argel, em 2000, depois de um conflito que deixou 80.000 mortos, antes de se estabelecer em uma guerra fria e amarga.
Analistas dizem que o surpreendentemente rápido enterro do conflito só foi possível graças à ascensão de Abiy ao cargo de primeiro-ministro etíope, em abril passado.
Como parte de um conjunto de reformas, Abiy anunciou no mês passado que a Etiópia aceitaria uma decisão de 2002, apoiada pela ONU, e repassaria o território fronteiriço para a Eritreia.
No entanto, a Etiópia não anunciou a retirada de tropas da área.
Abiy, em seguida, fez uma visita histórica à Eritreia, onde os dois líderes anunciaram o restabelecimento de laços diplomáticos e comerciais.
A reconciliação entre a Etiópia e a Eritreia poderia mudar a política e a segurança na região volátil do Corno de África, de onde centenas de milhares de jovens fugiram para a Europa em busca segurança e oportunidades.
A Eritreia e a Etiópia concordaram até agora em abrir embaixadas, desenvolver portos e reiniciar voos.
A Eritreia deve reabrir sua embaixada em Addis Ababa, na segunda-feira (16.07), pela primeira vez desde 1998.
A comunidade internacional considerou o encontro como um desenvolvimento bem-vindo em uma região chave, e muitas vezes instável.
Aspectos críticos
A Eritreia e a Etiópia estão entre as nações mais pobres de África.
No entanto, a Etiópia registrou crescimento de dois dígitos nos últimos anos e está a buscar opções mais amplas para importar e exportar seus produtos, com foco nos portos na Somália e na Eritreia.
Enquanto isso, a Eritreia, uma das nações mais isoladas do mundo, adotou políticas que paralisaram a economia ao assustar os investidores, incluindo um programa de recrutamento militar indefinido que a ONU assemelha à escravidão.
A Amnistia Internacional disse no sábado que a paz recém-descoberta deveria ser um catalisador para a mudança na Eritreia, onde milhares de pessoas, incluindo ativistas de direitos e políticos da oposição, estão "a definhar na detenção, simplesmente por expressar suas opiniões".
"O fim das hostilidades com a Etiópia é um momento de alegria para os eritreus, mas deve ser seguido por reformas tangíveis que façam uma diferença real na vida cotidiana das pessoas e ponham fim a décadas de repressão no país", disse Seif Magango, vice-diretor da AI para a região.