Bissau: Embaló sugere pena de morte para traficantes
16 de novembro de 2019Em entrevista à Lusa, em Caió, a cerca de 100 quilómetros de Bissau, e onde foi feita uma das maiores apreensões de cocaína da história do país, Umaro Sissoco Embaló, o candidato apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática da Guiné-Bissau (MADEM-G15) disse que é um homem de paz, de concórdia, mas que se for eleito Presidente da Guiné-Bissau não terá lugar no país para bandidos e marginais.
"Os bandidos? Tenho lugar para eles na cadeia. Os marginais? Tenho lugar para eles na cadeia. Droga? Eu vou mesmo sugerir a pena de morte para os traficantes se for eleito. Para mim é intolerante, não podemos estar aqui a banalizar uma sociedade a traficar drogas. Aqui não é a Colômbia e a gente conhece as pessoas que traficam droga. As pessoas que utilizam a Guiné-Bissau como passagem de droga. Haverá pena de morte para essas pessoas", afirmou Umaro Sissoco Embaló.
O antigo primeiro-ministro guineense disse que se for eleito não vai excluir ninguém, incluindo o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), a quem acusa de ser responsável pelos problemas no país.
"Assim que ganhar eleições não há nenhuma exclusão até o PAIGC não será excluído, porque fazem parte da sociedade e nós guineenses temos de nos sentar numa mesa e falar como irmãos. Ao fim ao cabo todos os guineenses são primos e amigos e para mim isso é uma questão júnior, esse problema que nós temos", afirmou, referindo-se à crise política que tem persistido no país nos últimos anos.
Umaro Sissoco Embaló não tem dúvidas de que "o responsável por isto [crise política] é o Domingos Simões Pereira e o PAIGC. Sempre que temos um Presidente do PAIGC, um primeiro-ministro do PAIGC e um presidente do parlamento do PAIGC há problemas”.
Questionado sobre como vai ser a sua relação com o Governo de Aristides Gomes, o candidato apoiado pelo Madem G15, voltou a frisar que o "Presidente da República exonerou o Aristides Gomes, em consequência também o Governo”. Ou seja, acrescentou: "O que vou fazer é convidar de novo o PAIGC a sugerir um nome, mesmo que seja o de Domingos Simões Pereira. Eles é que têm uma maioria relativa, mas o Aristides já não é Governo para mim, porque quem nomeia, exonera e dá posse é o Presidente da República", disse.
"Eu é que vou ditar a política externa da Guiné”
Na mesma ocasião, Embaló fez saber que se vencer as eleições vai acumular o cargo de Presidente com o de chefe da diplomacia guineense. "Serei ao mesmo tempo Presidente da República e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Eu é que vou ditar a política externa da Guiné. Temos de resgatar a imagem da Guiné, temos de dignificar e fortificar a política externa da Guiné-Bissau, como fiz quando era primeiro-ministro, e por isso a Guiné-Bissau tem de ser um país de respeito, de gente boa e de pessoas dignas, com princípios. Não é um país onde o Presidente da República parece uma Presidente da República das bananas", disse.
O mesmo candidato às presidenciais voltou a criticar a permanência da força de interposição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) no país (Ecomib) e condenou a sua utilização pelo atual chefe de Estado, José Mário Vaz, e pelo líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira.
"Para mim é uma traição à pátria. Aceitarmos tropas estrangeiras na Guiné-Bissau, isso é grave", afirmou.
Visita cancelada
Entretanto, foi cancelada a visita a Bissau de seis Presidentes de alguns países da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), agendada para este sábado (16.11). A visita não terá lugar "para já", disse à Lusa fonte do Governo guineense.
Segundo a mesma fonte, os Presidentes da Costa de Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri, Níger e Nigéria aguardam pelo relatório da missão dos líderes militares de quatro países da CEDEAO que se encontram desde quarta-feira, em Bissau, para o agendamento de uma nova data para a visita.
Os chefes das Forças Armadas de quatro países da CEDEAO têm-se desdobrado em contactos com as autoridades militares e governamentais guineenses, numa altura em que está em cima da mesa a possibilidade de reforço do contingente de soldados da CEDEAO na Guiné-Bissau, força de interposição, denominada Ecomib.
Vários dirigentes políticos e candidatos à presidência da Guiné-Bissau já se manifestaram contrários o reforço da força da Ecomib, defendendo ser uma invasão pela tropa estrangeira.