Nampula é uma das províncias onde casam mais crianças
1 de junho de 2016Sónia tem 14 anos de idade e chefia uma família de três: ela, o marido e o filho, de dois anos. Timidamente, conta que não sabe ao certo o que a levou a casar tão cedo: "Acabei casando", diz.
Quando teve o bebé, Sónia abandonou a escola. "Deixei na quinta classe", explica. Está agora desempregada. Ocupa-se das muitas tarefas domésticas: cozinhar, limpar a casa, lavar a roupa. A sobrinha e o marido dão, por vezes, uma ajuda. Sónia quer regressar à escola no próximo ano: "Vou voltar a estudar, sim."
A lei moçambicana proíbe o casamento antes dos 18 anos de idade, mas esta é uma prática enraizada em muitas comunidades do país. Estima-se que Nampula é uma das províncias moçambicanas onde mais se verificam casamentos prematuros.
Da estratégia às ações concretas
Segundo a organização não-governamental Visão Mundial, seis em cada dez raparigas casam antes dos 18 anos na província nortenha.
"Isto é uma tragédia", diz Eleutério Fenita, da Visão Mundial. "Felizmente o nosso país já tem uma estratégia nacional para a eliminação dos casamentos prematuros, que foi recentemente aprovada pelo Governo. Agora o que nos resta é passar daquilo que está definido nesta estratégia para as ações."
Segundo Fenita, é necessário olhar para as causas socioculturais na origem dos casamentos prematuros - há, por exemplo, razões de natureza económica que seria preciso atacar desde já, refere o responsável.
De visita à província de Nampula desde terça-feira (31.05), a primeira-dama moçambicana, Isaura Nyusi, lembrou que não se pode baixar os braços na luta pelos direitos das crianças: "O nosso Governo tem estado muito atento à criança, e todos nós. Claro que temos muitos desafios pela frente, e temos que trabalhar todos juntos", afirmou.