Namíbia: Que futuro após a morte do Presidente Hage Geingob?
8 de fevereiro de 2024A Namíbia realizou uma transferência de poder pacífica na madrugada de domingo (04.02), após a morte do Presidente Hage Geingob. O líder de 82 anos, no poder desde 2015, morreu após uma breve batalha contra o cancro.
O seu sucessor, o Presidente interino Nangolo Mbumba, assumiu o leme. Mas não tenciona candidatar-se às eleições presidenciais previstas para novembro deste ano.
"Não estarei presente nas eleições, por isso não entrem em pânico", disse Mbumba na cerimónia de tomada de posse, no dia em que o seu antecessor morreu.
A decisão de Mbumba é rara entre os líderes africanos, que tendem a aproveitar todas as oportunidades que têm para se agarrarem ao poder.
"A nossa nação permanece calma e estável graças à liderança do Presidente Geingob, que foi o principal arquiteto da Constituição", disse Mbumba ao prestar homenagem ao seu antecessor.
A "escolha ideal"
A nomeação de Nangolo Mbumba como Presidente interino não foi uma surpresa para a analista política Rakkel Andreas.
"Ele era a escolha ideal, tendo em conta que daria continuidade à memória institucional do gabinete do Presidente", disse Andreas à DW.
Mbumba era o vice de Geingob desde 2018, embora os holofotes estivessem geralmente voltados para o carismático Presidente falecido.
Quando Geingob se tornou Presidente pela primeira vez, em 2015, já tinha sido o primeiro-ministro que por mais tempo permaneceu no cargo no país - com mandatos de 1990 a 2002 e depois novamente para um período mais curto de 2012 a 2015.
Mas, de acordo com os resultados das urnas, a sua popularidade havia diminuído. Nas eleições de 2014, ganhou por uma grande maioria, com 87% dos votos. Cinco anos mais tarde, essa percentagem caiu para 56%.
O primeiro mandato de Geingob coincidiu com uma economia estagnada e elevados níveis de desemprego e pobreza, de acordo com o Banco Mundial.
O seu partido também enfrentou vários escândalos de corrupção durante o seu mandato.
Primeira mulher Presidente?
A vice-presidente Netumbo Nandi-Ndaitwah, antiga vice-primeira-ministra e candidata presidencial do partido Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO, na sigla em inglês), no poder, irá apoiar Mbumba.
Se for eleita em novembro, a política de 71 anos tornar-se-á a primeira mulher a assumir a Presidência do país.
De acordo com Rakkel Andreas, ter Nandi-Ndaitwah como candidata presidencial é uma jogada estratégica que garante a estabilidade dentro do partido, que atualmente se encontra sem um líder.
Espera-se que a SWAPO realize um congresso extraordinário no prazo de 90 dias para votar numa nova pessoa que assuma a liderança do partido, em substituição do falecido Presidente Geingob.
Mbumba X Nandi-Ndaitwah
Embora Nandi-Ndaitwah pareça ser a candidata mais provável para este papel, a analista Rakkel Andreas prevê que Nangolo Mbumba também tenha hipóteses de se tornar o próximo líder da SWAPO.
No entanto, isto não significa necessariamente uma mudança na direção na política do partido antes das próximas eleições, no final deste ano.
"A SWAPO deverá manter Nandi-Ndaitwah como candidata presidencial", avança Andreas, acrescentando que tal medida contribuiria para a perceção dos eleitores de que existe estabilidade no partido.
A analista política considera altamente improvável que Mbumba tente destituir Nandi-Ndaitwah na corrida presidencial: "Quaisquer ambições políticas que ele [Mbumba] possa ter, terão de ser ponderadas em relação ao futuro do partido em geral".
Uma mudança de candidato à última hora poderia ser vista como pouco confiável pelo eleitorado.
Mostrar força e unidade seria também um golpe nas esperanças dos partidos da oposição de beneficiarem da morte de Geingob.
"Não vejo como a oposição poderia tentar transformar isto numa questão tática para explorar em seu benefício", acrescenta Andreas.
SWAPO está a perder o seu apelo
Três décadas após a independência, em 1990, a narrativa heróica da libertação da Namíbia pela SWAPO está a perder o seu apelo entre uma geração nascida após a luta.
"Quando chegar a altura das eleições para a Assembleia Nacional, em novembro, a SWAPO estará mais perto de perder a maioria absoluta do que nunca na história política desde a independência", considera Henning Melber, um observador de longa data da política namibiana.
O partido ainda está, em grande parte, preso à ideologia da libertação. O melhor exemplo, cita, é a vice-presidente, Nandi-Ndaitwah. "Ela é conservadora, homofóbica e, na verdade, profundamente reacionária". Isto significaria menos progresso para a sociedade civil sob a sua Presidência.
Pelo contrário, Melber descreve o falecido Presidente Geingob como mais progressista, mantendo laços estreitos com os Estados Unidos.
O antigo chefe de Estado também impulsionou a agenda política no sentido da energia verde e de um papel pioneiro na industrialização verde no continente.
Melhor que o ANC da África do Sul
Para Melber, parece bastante provável que a SWAPO continue a ser o partido mais forte, possivelmente com uma maioria absoluta contínua. "A perda de legitimidade é menor do que a do [partido Congresso Nacional Africano] ANC na África do Sul", avalia.
Na vizinha África do Sul, os analistas prevêem que, pela primeira vez, o antigo movimento de libertação de Nelson Mandela não atingirá os 50% nas próximas eleições, em maio.
A SWAPO tem, no entanto, a sorte de a oposição na Namíbia estar mais dividida e ser incapaz de formar o mesmo tipo de alianças duradouras e sustentáveis ou acordos de coligação como na África do Sul, diz Melber. "Eles lutam entre si, e há acusações de suborno e abuso de poder", destaca.
De acordo com Melber, se a maioria dos votos for menor, será interessante saber até que ponto a SWAPO será flexível e estará disposta a procurar alianças mais estreitas com alguns dos partidos que competem com o antigo movimento de libertação.