NATO assinala 70º aniversário em cimeira tensa
4 de dezembro de 2019A cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte junta esta quarta-feira (04.12) líderes de 30 países num hotel em Hertfordshire, a norte de Londres, e está já marcada por fortes divergências internas sobre temas cruciais. Continua muito presente a entrevista do Presidente francês Emmanuel Macron ao The Economist, na qual este afirmou que a NATO "está em morte cerebral", sugerindo o desenvolvimento de uma defesa europeia autónoma.
Palavras que não foram bem recebidas por vários membros da organização, frisou, na terça-feira, no arranque da cimeira, o Presidente norte-americano, Donald Trump: "Foi uma declaração muito desagradável, principalmente para os outros 28 países [membros da organização]. Foi desrespeitoso".
Como já vem sendo tradição, Donald Trump voltou a apontar o dedo aos parceiros por não direcionarem mais fundos para despesas militares. Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO respondeu lembrando os aumentos das contribuições por parte da Europa, Turquia e Canadá, que pensam investir, em conjunto, até 2024 cerca de 400 mil milhões de dólares, mas frisando que "os Estados europeus e o Canadá não devem investir em defesa para agradar ao Presidente Trump".
Segundo Jens Stoltenberg, "devem fazê-lo porque estamos diante de novas ameaças e desafios. O ambiente de segurança tornou-se mais perigoso".
Reunião inconclusiva sobre a Síria
Outro dos temas críticos no seio da aliança é a intervenção militar turca na Síria, que motivou um encontro entre os líderes de França, Alemanha, Reino Unido e Turquia. No entanto, após a reunião, que teve lugar antes do arranque oficial da cimeira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, fez saber que e encontro foi "inconclusivo" mas que há "vontade de avançar".
Também a chanceler alemã Angela Merkel se mostrou otimista com o que classificou como "uma reunião boa e útil", mas que "deve ser encarada apenas como o início de uma discussão mais longa, porque o tempo foi limitado" e sugerindo nova reunião em fevereiro do próximo ano.
Emmanuel Macron destacou o facto de todos os participantes no encontro terem demonstrado "uma vontade clara" de provar que "a prioridade é a luta contra o [grupo 'jihadista'] Estado Islâmico e o terrorismo na região".
As relações entre a França e a Turquia tornaram-se mais tensas desde que Ancara lançou a ofensiva militar no nordeste da Síria contra a milícia curda, que tinha lutado ao lado dos Estados Unidos contra o grupo extremista Estado Islâmico.
Enquanto decorria a reunião de Recep Erdogan em Londres, o conflito na Síria continuava, provocando a morte de 44 pessoas com o colapso de um prédio, que faz desta data o dia mais sangrento do conflito, desde julho passado, segundo o Observatório para os Direitos Humanos.
A ascensão de Pequim
Também a afirmação da China como gigante económico está a colocar problemas de segurança, que a NATO identificou como críticos e para os quais procura ainda respostas consensuais entre os países membros.
Pela primeira vez, a aliança reconheceu os desafios provenientes do rápido crescimento do país e prevê-se que esta quarta-feira os 29 Estados-membros da NATO assinem uma declaração acerca da futura relação com Pequim: "É muito importante que tenhamos acordado que precisamos enfrentar juntos a ascensão da China. Porque até agora, este era um tema que não estava na nossa agenda (…). Mas agora reconhecemos, naturalmente, que a ascensão da China tem implicações de segurança para todos nós", explicou o secretário-geral da NATO.
Os líderes dos países da aliança quererão ainda discutir a questão do sistema de 5G, e as ameaças de segurança que esta tecnologia de comunicação colocará, no momento em que uma das empresas que está mais avançada, a Huawei, tem fortes ligações ao Governo de Pequim.
Entretanto, enquanto decorre a cimeira da NATO, em Londres, o Presidente russo Vladimir Putin disse, na cidade de Sochi, que está disponível para cooperar com a aliança ocidental. Declarações que mereceram uma resposta por parte de Emmanuel Macron que pediu "um diálogo, sem ingenuidade, para reduzir o conflito com este país".