Niassa: Mulheres recebem tratamento para fístula obstétrica
16 de setembro de 2023Lurdes Eduardo, 20 anos de idade, perdeu o filho no seu último parto e ficou com uma fístula obstétrica. Fez o luto do bebé enquanto lidava com todas as complicações de saúde. Passados dois anos conseguiu fazer uma cirurgia reparadora.
Lurdes Eduardo conta à DW que finalmente consegue respirar um pouco de alívio.
"Sinto-me bem, estou a andar bem. Tenho um filho vivo e um morto. Contraí a fístula no ano de 2021 e só agora, em 2023, fui operada".
Obstruções ou partos demorados em locais onde não há acesso a cuidados médicos de qualidade podem causar as fístulas obstétricas – ruturas no canal vaginal que provocam problemas de incontinência.
Muitas mulheres com este problema são abandonadas pelos seus parceiros e excluídas socialmente.
A operação reparadora é um enorme salto na qualidade de vida, diz Lurdes Eduardo.
"Estou satisfeita e irei aconselhar as minhas irmãs a vir a Lichinga para poder fazer o tratamento da fístula para também ficarem bem e brincarem bem com os seus filhos."
Os Hospitais Provinciais de Niassa, Nampula e Sofala acolhem durante o mês de setembro a "Missão Provincial de Formação e Tratamento de Fístula Obstétrica e Reconstrução Pélvica", organizada pela ONG "Focus Fístula" e pelo Ministério da Saúde.
As dificuldades
Em Lichinga, mais de cem mulheres de todos os distritos da província de Niassa alistaram-se para o tratamento da fístula obstétrica. Muitos destes casos são bastante complicados, explica Igor Vaz, o médico-cirurgião que chefia a missão.
"Muitas vezes, o cirurgião pode não avaliar muito bem se consegue ou não operar. Vieram ao hospital mais de cem mulheres e nós já observámos perto de cinquenta. Quase todas elas têm casos muito complicados. 35 a 40 pacientes deverá ser o máximo que podemos operar nessa campanha."
A secretária de Estado da província de Niassa, Lina Portugal, deixou uma palavra de encorajamento às mais de cem mulheres que passaram por discriminação nas comunidades e se encontram agora no hospital provincial à espera de tratamento para a fístula.
"Esta é uma campanha que está a decorrer para devolver a dignidade a estas mulheres, que vinham a sofrer estigmatização ao nível da família e também das comunidades. Ficamos satisfeitos por as cirurgias já terem começado", afirmou.
A fístula obstétrica pode ser prevenida com a formação de profissionais de saúde e um acesso mais abrangente a cuidados de emergência e ao planeamento familiar.