Nigeriana quer ganhar primeira liderança africana da OMC
5 de julho de 2020Ngozi Okonjo-Iweala, que atualmente preside ao conselho da Aliança Global para as Vacinas e Imunização (GAVI), recolheu já o apoio oficial da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e fontes diplomáticas, citadas pela imprensa africana, acreditam que irá recolher o apoio oficial da União Africana.
A candidatura, descrita por um delegado da OMC à agência Reuters, como sendo "certamente a favorita", ganhou força depois de Phil Hogan, da Comissão Europeia de Comércio, ter desistido de concorrer ao lugar.
A economista nigeriana, de 66 anos, é também bem vista pela China e pelos Estados Unidos.
O OMC lançou em junho o processo de seleção de um novo diretor-geral, depois de o atual, o brasileiro Roberto Azevedo, ter decidido deixar o cargo em finais de agosto, um ano antes do final do mandato.
Mais concorrentes
O anúncio da sua saída antecipada surpreendeu a comunidade internacional e abriu uma corrida ao lugar, que conta já com mais quatro candidaturas além de Okonjo-Iweala: o mexicano Jesús Seade Kuri, o egípcio Abdel-Hamid Mamdouh, o moldovo Tudor Ulianovschi e a coreana Yoo Myung-hee.
O prazo para a apresentação de candidaturas, que decorreu durante um mês, termina na próxima quarta-feira.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) endossou oficialmente a candidatura Ngozi Okonjo-Iweala em finais de junho, numa declaração oficial assinada pelo presidente em exercício da organização, o chefe de estado do Níger, Mahamadou Issoufou, que pediu o apoio de outros países africanos e não africanos para a candidatura.
"Desde a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 01 de janeiro de 1995, sucedendo ao Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT) estabelecido em 01 de janeiro de 1948, nenhum africano assumiu o cargo de diretor-geral da organização", assinala-se na declaração.
Fontes ligadas ao processo de escolha, citadas pela imprensa, sublinham que existe "um amplo consenso para a escolha de um candidato africano e uma mulher", uma vez que a organização baseada em Genebra nunca foi liderada, quer por uma mulher, quer por um candidato oriundo de África.
Quem é Okonjo-Iweala?
Okonjo-Iweala tem uma carreira de 25 anos no Banco Mundial, em Washington, tendo cumprido também dois mandatos como ministra das Finanças da Nigéria (2003-2006 e 2011-2015) sob a liderança dos presidentes Olusengun Obasanjo e Goodluck Jonathan, respetivamente.
Nascida numa família real no Estado do Delta, o pai tornou-se o Eze (rei) da Família Real Obahai de Ogwashi-Ukwu.
Okonjo-Iweala estudou na prestigiada Universidade de Harvard, tendo-se licenciado em Economia em 1976.
Em 1981, obteve um doutoramento em Economia e Desenvolvimento regional pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) com uma tese intitulada "Política de Crédito, mercados financeiros rurais, e a Nigéria".
Os críticos de Okonjo-Iweala argumentam que a sua especialidade são as finanças e que o direito comercial internacional "não está realmente no seu currículo".
Género é uma vantagem?
Por outro lado, é questionada a possibilidade de a sua candidatura estar a "jogar a carta do género" ao apresentar "uma mulher de sucesso próxima do setor privado".
A candidatura da ex-ministra nigeriana merece também a oposição do Egito, que pediu à União Africana a sua desqualificação como candidata, alegando que tinha sido estabelecida a data de 30 de novembro para a formalização da corrida ao cargo e que Okonjo-Iweala só se apresentou em junho.
A candidatura de Okonjo-Iweala foi apresentada apenas em junho, depois de a Nigéria ter substituído o seu primeiro candidato, mas a OMC esclareceu, em comunicado, que o período de candidaturas só termina em 08 de julho e admitiu oficialmente a nigeriana como concorrente.
Entretanto, o Benim retirou o seu candidato e declarou apoio a Okonjo-Iweala.
A União Africana, que tinha apoiado o egípcio Hamid Mamdouh meses antes da apresentação da candidata nigeriana, ainda não se pronunciou oficialmente, mas Okonjo-Iweala assegura que sente "forte apoio" de África e disse esperar que os líderes africanos se unam em torno da sua candidatura.