Exército nigeriano dificulta combate à má nutrição
27 de outubro de 2016Para chegar até Monguno, uma cidade junto à fronteira com o Chade, a única opção segura é o helicóptero. Caso contrário o risco de cair nas mãos dos insurgentes do Boko Haram é elevado. Monguno tinha uma população local de cerca de 60 mil pessoas. Neste momento alberga 140 mil refugiados.
Num dos vários campos de deslocados para abrigar os refugiados, uma mulher aproxima-se da reportagem da DW África. Diz chamar-se Iza e mostra as duas crianças que carrega ao colo, são gémeas. Têm dois meses e estão visivelmente malnutridos.
Iza insiste que não. Diz que são seus filhos e que estão os dois bem. Membros de uma organização de assistência médica observam as crianças. "Acha que as crianças precisam de tratamento médico urgente?”, pergunta o jornalista da DW África. "Sim", responde Konate Mamoutou, que com a autorização da mãe leva de imediato as crianças para um centro médico improvisado.
Iza fugiu para este campo de refugiados há três meses, depois da vila onde vivia ter sido atacada repetidas vezes nos últimos tempos.
Problema generalizado
No centro de tratamento, os gémeos recebem atendimento médico. Os clínicos explicam a Iza que ambas as crianças estão a necessitar de assistência médica urgente, porque estão num estado extremo de malnutrição.
Todas as crianças da vila têm problemas de nutrição, por isso Iza achou que os seus gémeos estavam bem para a sua idade.
Zainab Ahmed, enfermeira da organização humanitária Alima – Aliança para a Ação médica Internacional –, dá boas notícias: "Ficámos felizes por detetar esta situação tão rapidamente. Vamos agora voar para o nosso hospital, na cidade. Como sabe a malnutrição é um problema de saúde muito grave e que pode matar”.
Conflito armado dificulta ajuda
A Alima e outras ONG chegaram a Monguno em junho. Antes disso, havia apenas um médico disponível para toda a cidade. Cerca de 100 crianças estão agora a ser tratadas diariamente numa clínica desta organização.
No entanto a situação é ainda pior em vilas e aldeia onde é impossível aceder por causa dos combates. As Nações Unidas estimam que dois de milhões de pessoas vivam em zonas isoladas da Nigéria, sem acesso a comida nem ajuda humanitária. O exército nigeriano tornou a situação ainda pior, depois de adotar a estratégia de cortar o acesso do Boko Horam às rotas de abastecimento.
Iza espera que os militares sejam bem sucedidos na luta contra os terroristas, para que ela possa regressar a casa. Depois de anos a viver com medo, ela quer voltar a trabalhar na terra e alimentar os dois filhos.