No banco ou na rua? A luta para comprar divisas em Angola
25 de julho de 2019Passaram duas semanas desde que o Banco Nacional de Angola (BNA) pediu aos bancos comerciais que permitissem aos clientes movimentar as contas em moeda estrangeira. No entanto, cidadãos ouvidos pela DW denunciam que, de lá para cá, já tentaram levantar dólares e não conseguiram.
Jesse Bengui, residente em Luanda, planeia viajar em breve e foi ao banco buscar divisas. Mas viu o pedido recusado: "Eu tenho uma conta em dólares no [banco] Millennium e não me deixam tirar, dizem sempre que não têm", conta Bengui.
A DW tentou obter uma explicação junto do banco Millennium Atlântico, sem sucesso.
Mais fácil na rua?
O BNA suspendeu estas operações com divisas em 2017, por causa da crise económica. Há duas semanas, voltou a autorizar movimentações em moeda estrangeira para importar mercadorias, pagar salários de expatriados ou pagar despesas de viagens e de saúde.
Mas Jesse Bengui não é o único a ter problemas para obter moeda estrangeira. Benjamim José Thiago, outro morador de Luanda, diz à DW que também não conseguiu levantar dólares para pagar o tratamento médico de um familiar na Namíbia.
Para muitas pessoas, o "mais fácil" acaba por ser comprar dólares na rua, porque "no banco não está fácil trocar kwanzas por dólares", revela.
E isso sai caro: no mercado informal, uma nota de 100 dólares chega a custar mais de 40 mil kwanzas. No banco, para comprar 100 dólares bastam 35 mil kwanzas, ao câmbio atual.
"O nosso kwanza tem que ter valor para que possamos ter dólar", desabafa Benjamim José Thiago. "Quando à troca, o dólar está alto e o nosso kwanza está baixo, não temos como fazer. É difícil."
Reclamações
O Banco Nacional de Angola anunciou em comunicado que os clientes que não conseguirem movimentar as suas contas devem reclamar.
Questionado sobre se já tinha informado o banco central de que não conseguiu levantar dólares, Jesse Bengui diz que não. Mas espera que o BNA leve as reclamações dos cidadãos a sério: "Espero que valha a pena, porque não vamos aqui tapar o sol com a peneira - a situação está mesmo difícil."
O BNA diz que, se os bancos comerciais não conseguem disponibilizar dólares, devem oferecer alternativas: ou fazer uma transferência bancária ou, por exemplo, carregar um cartão pré-pago de aceitação internacional.