No Egito, expectativa de eleições gera movimentações políticas
6 de julho de 2011O Egito planeja eleições legislativas para setembro e presidenciais para dois meses depois, e várias organizações políticas já se movimentam para formar partidos políticos dispostos a concorrer nos diferentes pleitos eleitorais. Uma dessas organizações é a Irmandade Muçulmana - organização islâmica clandestina durante o regime de Mubarak - mas também há forças conservadoras se articulando para as eleições.
Há poucas semanas, foi criado no Cairo um partido socialista e entre os membros fundadores está Mamdouh Habashi, um dos críticos do capitalismo e membro do movimento alternativo mundial que tem participado nos diferentes Fóruns Sociais Mundiais (FSM).
Quatro meses após renúncia de Mubarak, a revolução não terminou
O derrube do regime de Hosni Mubarak foi há 4 meses, mas a onda da revolução ainda não terminou. Os movimentos democráticos continuam a lutar com a finalidade de poderem participar no processo político do país, que pretende ser o reflexo de uma sociedade aberta e de justiça social. Mas o arranque para esta nova era política no Egito parece encontrar algumas dificuldades, como afirma Mamdouh Habashi, um dos membros fundadores do novo partido socialista egípcio.
“Em 18 dias conseguimos decapitar a cabeça do antigo regime” afirma Habashi, antes de lamentar: “Mas os membros e o corpo desse regime continuam no poder e não facilitam a revolução.”
Segundo Habashi, em todos os serviços, nas universidades e escolas, bem como em todos os ministérios, ainda estão a trabalhar elementos do velho regime. “Queremos afastar os símbolos do velho regime, mas não é fácil. Isso exige muita luta ”, afirma.
Mamdouh Habashi pertence ao grupo dos membros fundadores do Partido Socialista Egípcio, criado há poucas semanas no Cairo. Habashi diz que o partido é socialista e não social democrata e identifica-se como uma força de esquerda que é contra os interesses neoliberais e a favor da participação e democratização da sociedade.
“Democracia não é um objetivo, mas um processo”
“Não consideramos a democracia como uma meta que se possa alcançar“, afirma Habashi, para concluir mais à frente que “a democracia não é um objetivo, mas sim um processo. Um processo sem fim.”
Este processo de democratização não pode limitar-se à realização de eleições de cinco em cinco anos, diz Habashi: “O processo tem que ter avanços diários e atingir as pessoas de todos os níveis sociais, incluindo uma participação dos trabalhadores nas empresas”.
“As pessoas têm de participar nas decisões. Não apenas fazer uma cruz no papel de cinco em cinco anos, mas sim tomar parte nas decisões nas suas empresas, nas associações, nos hospitais, escolas, não interessa onde” destacou.
Para Mamdouh Habashi, não interessa se as pessoas pertencem ao setor privado ou estatal: “Todo aquele que execute um trabalho tem que ser envolvido em todas as decisões”, opina.
Militares querem transferir o poder aos civis o mais rápido possível
Os militares que governam o Egito desde a demissão de Hosni Mubarak querem transferir o poder para um governo civil “o mais rápido possível”, tem afirmado o marechal Hussein Tantaoui, que dirige o Conselho Supremo das Forças Armadas.
Este conselho, que governa o Egito desde 11 de fevereiro, já prometeu várias vezes transferir o poder para os civis depois das eleições.
Autor : Bettina Marx / Daniel Machava
Edição: António Rocha / Renate Krieger