Nomeação de Isabel dos Santos "afeta reputação" de Angola
3 de junho de 2016Isabel dos Santos assegurou que a nova equipa de gestão implementará um "novo modelo para o setor petrolífero" no país.
A equipa pretende ainda aumentar a rentabilidade da petrolífera, garantir a transparência na gestão e melhorar as relações com os fornecedores, depois de sofrer, em 2015, uma queda das receitas de 34% em relação a 2014, sobretudo devido à quebra do preço do petróleo no mercado internacional.
Mas a nomeação de Isabel dos Santos está a gerar polémica. Um grupo de juristas angolanos estuda a hipótese de impugnar judicialmente a nomeação da empresária angolana para presidente do conselho de administração da Sonangol "por improbidade pública", avança a agência de notícias Lusa.
Em entrevista à DW África, o economista Carlos Rosado de Carvalho também questiona esta nomeação.
DW África: Isabel dos Santos é a pessoa adequada para chefiar a Sonangol?
Carlos Rosado de Carvalho (CR): Se fosse eu a escolher, provavelmente seria das últimas pessoas que escolheria. Se fosse Presidente da República e tivesse uma filha, ainda por cima empresária, com negócios, não o faria. Estamos na presença de uma decisão que deixou muita gente consternada, incrédula. Não estão em causa as qualidades profissionais de Isabel dos Santos, o que está em causa é que Isabel dos Santos é filha do Presidente da República, que a nomeou. E Isabel dos Santos tem negócios que são, de alguma maneira, conflitantes com a posição de presidente da Sonangol, porque se trata de um cargo que exige disponibilidade total das pessoas e não é este o caso.
DW África: Isabel dos Santos disse ter traçado uma estratégia: que é preciso cortar na produção e otimizar os recursos. Passa por aí a solução?
CR: Não conheço os detalhes, mas já a administração anterior dizia que o modelo da Sonangol estava falido. É uma evidência que a Sonangol precisa de uma reestruturação e de melhoria de eficiência. Mas o que está em causa é a nomeação da filha do Presidente da República para a maior empresa nacional e, sobretudo, num contexto em que um outro filho do Presidente da República gere o Fundo Soberano. Há aqui alguma coisa que francamente não está bem e que afeta a reputação externa do país, numa altura em que, por exemplo, o sistema financeiro angolano está a ser isolado, não há bancos que queiram fazer negócios com Angola, foi suspensa a venda do dólar... Acho que esta decisão vem piorar e agravar as coisas, embora não seja uma decisão diretamente relacionada com o sistema financeiro. Acho que esta nomeação vem dar razão àqueles que já tinham alguma desconfiança relativamente ao modelo de governação em Angola.
DW África: Em que medida aumenta agora o poder de influência de Isabel dos Santos com esta nomeação?
CR: Provavelmente vão dizer que Isabel dos Santos não é presidente executiva, é a presidente do Conselho de Administração e não é executiva. Eu não sei também quem escolheu os admnistradores, não conheço as pessoas, seguramente são muito competentes. Mas quando se trata de uma figura com um peso político e empresarial de Isabel dos Santos é ela que vai mandar e, aliás, vai responder diretamente ao Presidente da República, como acontece em todos estes casos. Portanto, está tomada a decisão, que é eventualmente irreversível embora as pessoas devam reclamar, por isso vamos ver e escrutinar. Dou-lhe um exemplo concreto: Quando o engenheiro Filomeno dos Santos foi proposto para presidente do Fundo Soberano, uma das promessas foi que a gestão seria transparente e o próprio fundo tem divulgado o ranking da transparência, em que, aparentemente, o fundo está bem classificado, mas a verdade é que não conhecemos as contas do Fundo Soberano. Estamos em junho e o Fundo Soberano ainda não publicou as contas de 2015. Tudo isto é muito estranho e, francamente, lamento que seja este o rumo que o país está a tomar.