Nova vaga de Covid-19 começa a chegar ao continente africano
23 de dezembro de 2020Em África registaram-se já mais de 2,5 milhões de casos e cerca de 59 mil mortes, desde que a pandemia começou. Em entrevista à DW, Ado Mohammed, diretor para as questões de saúde do G8, grupo dos oito países mais desenvolvidos, mostra-se preocupado.
"A segunda vaga está aqui. As pessoas têm de assumir a responsabilidade e cumprir as medidas. Mas continuam a ir a casamentos, eventos, igrejas e mesquitas. Apertam as mãos, não aderem ao distanciamento social e não usam máscaras", observa.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as autoridades sanitárias de 47 países africanos registaram uma média de 46.000 novos casos por semana desde meados de outubro.
O Ruanda, o Quénia e a África do Sul têm estado a registar um aumento semanal das infeções por Covid-19 nos últimos meses.
África do Sul tem cada vez mais novos casos
Segundo dados da Universidade John Hopkins, a África do Sul é responsável por cerca de um terço dos casos em África. Em julho, o país chegou a registar quase 14.000 novos casos por dia. E nos últimos dias, o número de novas infeções diárias voltou a subir para cerca de 8.000.
Wolfgang Preiser, chefe do Departamento de Virologia Médica da Universidade de Stellenbosch, considera surpreendente esta segunda vaga na África do Sul, pelo facto de atualmente o verão ser alto no hemisfério sul.
"Esperava que fossemos poupados até abril, altura em que faz mais frio. Uma razão para o aumento do número de casos de coronavírus pode ser uma nova variante do vírus que se tem vindo a espalhar rapidamente no país, há já algum tempo", explica.
Viagens suspensas e praias fechadas
Para travar a propagação da nova variante da Covid-19, vários países suspenderam as viagens aéreas da África do Sul, incluindo a Alemanha. O governo sul-africano também decidiu fechar as praias públicas do país e restringiu a venda de álcool.
Mas o economista do nigeriano Lawal Habib, defende em entrevista à DW que os bloqueios mais rigorosos não são uma estratégia a longo prazo para conter a Covid-19 em África.
"A natureza frágil da economia africana não pode resistir a uma segunda vaga de encerramento completo. Os efeitos do primeiro confinamento ainda se fazem sentir. "Outro bloqueio não fará nada, só exacerbará o problema da pobreza e do desemprego", alerta.
O economista defende que os governos deveriam confiar no e-learning e nos escritórios domésticos (home office) para conter a pandemia.