Nova vida para os manuscritos de Tombuctu
2 de março de 2017A invasão islamista no norte do Mali pôs em risco de destruição milhares de manuscritos de Tombuctu, documentos históricos sem preço, que relatam a busca pelo conhecimento no mundo islâmico há muitos séculos. Mas os documentos foram salvos. Tudo graças a Abdel Kader Haidara, a quem, por esse feito, a Alemanha entregou o Prémio de África na edição de 2014.
Abdel Haidará criou a organização não-governamental "Salvar e valorizar os manuscritos para a defesa das culturas islâmicas" (SAVAM DCI), em Bamaco. Atualmente dezenas de pessoas trabalham na conservação dos manuscritos resgatados em Tombuctu.
A estrutura, criada em 2014 com o apoio dos parceiros internacionais, cataloga, digitaliza e preserva documentos manuscritos no século XI. Abdel Kader Haidará, presidente executivo da ONG, é hoje um homem feliz, porque uma grande parte do acervo de Tombuctu foi resgatado e encontra-se em lugar seguro.
"No início, os manuscritos estavam empilhados em um canto ou dentro de contentores, muitas vezes em más condições de conservação, desordenados e cheios de pó. Hoje, mais de 70% desses manuscritos estão limpos, catalogados em francês e árabe. Bem conservados em caixas próprias colocadas em algumas estantes”, observa.
Digitalizados 20% dos documentos
Os trabalhos técnicos de limpeza e catalogação devem, segundo a organização, ficar concluídos até ao final do ano. Ainda assim falta digitalizar uma grande parte dos manuscritos: até agora esse trabalho abrange somente 20% dos documentos.
Mas dos dois primeiros gabinetes para a digitalização, a ONG conta atualmente com 12. À DW África a chefe destes serviços, Souleymane Diarra, conta que ali trabalham equipas que ganharam muita experiência e maturidade.
"Com o avanço dos trabalhos conseguimos dar passos significativos. A experiência só se consegue trabalhando e é o que temos feito. Por outro lado, as pessoas gostam do trabalho que fazem. Algo que contribuiu muito para este sucesso, porque compreenderam que os manuscritos fazem parte de um tesouro que é património nacional”, explica.
Recorde-se que Tombuctu foi, em tempos, o centro islâmico da pesquisa e erudição em África.
Exploração científica dos manuscritos
Enquanto as equipas trabalham afincadamente, Abdel Kader Haidara, já tem os olhos postos num outro desafio cultura: a restauração completa dos documentos e, principalmente, a pesquisa para a exploração científica do conteúdo dos manuscritos.
Para os observadores trata-se de um trabalho importante, uma vez que o objetivo final é tornar totalmente acessível a todas pessoas interessadas, nomeadamente, pesquisadores, o conteúdo de um tesouro até hoje mal conhecido.
"A exploração científica dos manuscritos não pode ser feita sem pesquisas. Existem manuscritos que são tão importantes que necessitam de um estudo aprofundado e isso só será possível quando forem traduzidos em algumas línguas nacionais e internacionais. É assim que poderemos conhecer o verdadeiro conteúdo desses documentos tão valiosos.”
Para que este novo desafio seja concretizado são necessários recursos financeiros que ainda não estão disponíveis, mas Haidara confia na generosidade dos parceiros internacionais.
Entre estes, estão vários governos, universidades e fundações de muitos países, nomeadamente a Alemanha. Parceiros cuja ajuda também já permitiu à organização "Salvar e valorizar os manuscritos para a defesa das culturas islâmicas" construir ou reabilitar 38 bibliotecas das 45 previstas no quadro de um amplo projeto cultural no Mali.