Nyusi preservará interesses económicos de Guebuza?
4 de março de 2014Também se especula que Armando Guebuza, atual Presidente do país, permanecerá ainda durante alguns anos na presidência da FRELIMO, o partido no poder.
Sobre estes temas a DW África entrevsitou dois observadores políticos em Moçambique, começando pelo investigador do Instituto Superior de Relações Internacionais em Maputo, Calton Cadeado, que descreveu a personalidade de Filipe Nyusi.
Calton Cadeado (CC): Do CV que conheço e da vida pública é um pouco daquilo que exerceu ou exerce até agora como ministro da Defesa. E poucas vezes tive possibilidade de participar das ações dele como ministro. Nota-se que é uma pessoa que tem um sentido muito de defesa de pátria, de nacionalismo para assuntos de Moçambique.
DW África: Há quem diga que ele é muito próximo do atual Presidente e será a pessoa que vai preservar os interesses de Guebuza em Moçambique...
CC: Já ouvi a mesma afirmação em relação ao ministro da agricultura, José Pacheco. Até bem pouco tempo dizia-se que ele era a pessoa fiel, segura para proteger os interesses económicos do atual chefe de Estado. Neste momento parece-me que estamos a dar azo a muita informação para ver onde pegamos para atacar o atual provável chefe de Estado. Se ele é fiel ou não, veremos a medida em que for fazendo a sua governação.
A DW África entrevistou também o jornalista e analista político moçambicano, Baiano Valy. Segundo o jornalista independente a eleição de Nyusi a candidato da FRELIMO, o partido no poder, poderá trazer muitas mudanças:
Baiano Valy (BV): Acho que poderemos viver momento interessantes na história política moçambicana caso seja eleito. No entanto ele vai ser o chefe das forças armadas, vai chefiar a polícia e os serviços de segurança. Esse homem ver-se-á munido de todo o poder para ser o presidente do partido. Será que isso pode criar conflitos? Temos o candidato da etnia Makonde. Obviamnete que há bom tempo que os Makondes reivinicam o poder e tendo um filho da casa na presidência da República, como é que eles se verão quando no passado o Presidente da República por via da FRELIMO, sempre foi o presidente do partido?
DW África: Logo após a nomeação de Filipe Nyusi surgiram vozes críticas que dizem que ele é o homem de Guebuza, que vai ser instalado no poder para preservar os interesses económicos do atual Presidente. O que pensa disso?
BV: Penso que não é de todo absurdo pensar-se assim, se o Presidente Guebuza continuar como presidente da FRELIMO, que é o partido que de alguma forma determina quais serão as políticas económicas e financeiras e sendo ele o Presidente da República associado a vários interesses económicos, é verdade que haveria de querer ver alguém que pudesse continuar a proteger os seus interesses económicos.
Por exemplo, diz-se que as primeiras gotas de petróleo irão jorrar em 2018, e até a essa data ele continuará como presidente do partido. Se não houver uma pressão para que ele ceda o seu lugar ao senhor Filipe Nyusi, poderemos ter lutas intestinais muito fortes para o acesso aos interesses económicos e financdeiros do país.
Na corrida presidencial Filipe Nyusi, de 55 anos, natural de Cabo Delgado, e de etnia makonde, foi eleito pelo Comité Central da FRELIMO candidato do partido às eleições presidenciais de 15 de outubro. Ele deverá ter como adversário Afonso Dhlakama, presidente da RENAMO, a maior força política do país, e Davis Simango, líder do MDM, segunda maior força da oposição.