Nyusi quer conversar com grupos armados em Cabo Delgado
23 de dezembro de 2019O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, manifestou-se disponível para dialogar com os grupos armados que têm protagonizado ataques na província de Cabo Delgado, no norte do país.
"Nossos irmãos estão a ser mortos em algumas zonas de Cabo Delgado por pessoas que não sabemos quem são nem o que querem. Se nos dissessem, sentar-nos-íamos com essas pessoas para poderem falar", disse o chefe de Estado moçambicano, citado hoje pela Agência de Informação de Moçambique (AIM).
Filipe Nyusi falava no distrito de Lagos, na província de Niassa, durante a inauguração das novas instalações da Igreja Anglicana. No seu entender, a paz, condição para o desenvolvimento em Moçambique, deve ser vista sempre como algo em construção e todos os atores sociais devem estar envolvidos no processo, incluindo as igrejas.
"O bispo do Niassa que apele a todos para trabalharem para a construção da paz. A paz é uma obra que não termina", declarou Nyusi.
Os ataques
Na região de Cabo Delgado (Norte) têm-se sucedido ataques de grupos armados desde outubro de 2017, após anos de atritos entre muçulmanos de diferentes origens, com a violência a eclodir em mesquitas radicalizadas.
Pelo menos 300 pessoas já morreram em Cabo Delgado, segundo números oficiais e da população, e 60 mil residentes foram afetados, muitos dos quais obrigados a deslocar-se para outros locais em busca de segurança, segundo as Nações Unidas.
Desde junho deste ano, o grupo "jihadista” Estado Islâmico tem reivindicado alguns dos ataques, mas autoridades e analistas ouvidos pela Lusa têm considerado pouco credível que haja um envolvimento genuíno do grupo terrorista que vá além de algum contacto com elementos no terreno.
Os ataques afetam distritos próximos das áreas de projetos de exploração de gás natural e, em ações concertadas com petrolíferas que ali constroem os maiores megaprojetos de gás natural de África, o Governo tem intensificado a resposta militar com apoio logístico da Rússia, mas os episódios continuam e estão a perturbar as obras na península de Afungi.