O futuro da Costa do Marfim: reconciliação é precisa
12 de abril de 2011Alassane Ouattara tem consciência das dificuldades que o esperam. Nas eleições presidenciais, há mais de 4 meses, cerca de metade dos eleitores não votou nele, mas antes no seu rival, o então presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, que não aceitou a derrota anunciada após o segundo turno presidencial, em 28 de novembro de 2010.
Nas semanas e meses que se seguiram às eleições, o país africano foi assolado por uma onda de violência; e o povo está hoje em dia mais dividido que nunca. Ouattara fez na noite desta segunda-feira (11/4) novo apelo à reconciliação. Anunciou também que vai ser criada uma comissão para investigar os casos de violência e os massacres cometidos durante esse período, e especialmente nas últimas semanas, durante a ofensiva das forças pró-Ouattara no oeste do país. Alassane Ouattara prometeu que os criminosos serão punidos.
Para já, ele é responsável pela integridade física do seu adversário. Se acontecesse alguma coisa a Gbagbo, a Costa do Marfim mergulharia novamente em guerra e o ex-presidente seria transformado em mártir, o que iria dividir ainda mais o país. “Gbagbo tem de ser protegido. Ele está vivo e não lhe pode acontecer nada”, afirma Rinaldo Depagne, do International Crisis Group. “Os adversários de Gbagbo não o devem agredir. Ele tem de ser protegido, inclusive por aqueles com quem estava até agora em conflito”, avalia Depagne.
Dois campos políticos na reconciliação: “trabalho de Hércules”
A avaliação de analistas em geral é que o novo presidente tem de se empenhar a fundo pela paz e reconciliação. Alioune Tine, da organização de defesa dos direitos humanos Raddho, com sede no Senegal, insiste que é muito importante que no futuro governo da Costa do Marfim estejam representados os dois campos políticos: “Se o vencedor não se empenhar a fundo por reconciliar a população e promover a paz, então o conflito continuará”, diz.
“O poder tem de ser aberto a todos os marfinenses”, continua Tine. “É preciso um governo de unidade nacional; é muito importante criar uma comissão da verdade, justiça e reconciliação. A situação depois do conflito e depois das eleições é um trabalho de Hércules. Todos os marfinenses têm de dar a sua contribuição e reconciliar-se”, exorta o defensor dos direitos humanos.
Rinaldo Depagne, do International Crisis Group, recorda que na primeira volta das eleições, 38% dos cidadãos votaram em Laurent Gbagbo; depois, na segunda volta, cerca de metade deu seu voto ao presidente cessante.
“Convém recordar que o partido de Gbagbo, o FPI, é uma força histórica – primeiro na oposição e depois no governo”, afirma Depagne, para quem excluir uma percentagem tão grande da população, estará a criar novos problemas e a contribuir para aumentar o fosso que a divide. “O FPI existe na Costa do Marfim há quase três décadas. Uma força política destas não pode ser simplesmente excluída. Se isso acontecesse, iria reacender-se o problema da divisão política”.
No seu primeiro discurso na televisão depois da detenção de Gbagbo (11/4), o Presidente Ouattara anunciou que os responsáveis pelo conflito vão ser agora julgados nos tribunais. Mas não disse onde: se nos nacionais; ou nos internacionais.
Autor: Carlos Martins
Revisão: Renate Krieger / António Rocha