O futuro de Kismayo é incerto
2 de outubro de 2012A tomada do porto de Kismayo por parte dos soldados somalis e quenianos aconteceu nesta terça-feira (02.10), em meio a explosões reivindicados pelos rebeldes islâmicos da al-Shebab e da mesma forma, pelas forças governamentais quando tentatavam desminar algumas localidades da terceira maior cidade da Somália.
Pouco depois da entrada, na segunda-feira (01.10), dos soldados somalis e quenianos em Kismayo, cuja missão é manter a segurança dos pontos importantes da cidade portuária do sul da Somália, foram registadas várias explosões.
Recorda-se que as milícias da al-Shebab anunciaram na semana passada que a sua retirada de Kismayo era puramente "tática" e que contavam transformar num "campo de batalha" contra as forças governamentais, o local que até agora foi bastião dos islâmicos rebeldes na Somália.
Batalha ainda não terminou
Os somalis e quenianos, estes últimos membros da força da União Africana na Somália (AMISOM), continuam a ocupar várias posições estratégicas em Kismayo, nomeadamente o porto e o aeroporto da cidade.
Eles entraram na cidade 48 horas depois da retirada dos rebeldes Shebab que controlavam Kisdmayo desde agosto de 2008. O contingente queniano da AMISOM atacou a cidade pelo mar, apoiado por bombardeamentos aéreos. Segundo o porta-voz das tropas quenianas, Cyrus Oguna, depois da reconquista de Kismayo, já pensam na próxima etapa.
"Trata-se de uma grande ofensiva contra al-Shebab, na medida em que ocupamos os locais estratégicos que antes estavam sob controle das milícias. A nossa próxima missão é, em primeiro lugar, consolidar Kismayo e, em seguida, desalojar as milícias da al-Shebab de outras localidades", deixa claro Oguna.
Saída dos Shebab não acalma população
Os habitantes de Kismayo não escondem a preocupação quanto às milícias Ras Kamboni, estas, ligadas a clãs rivais que disputavam a cidade antes da chegada da al-Shebab.
As pessoas temem que novos combates pelo controle de Kismayo e do seu lucrativo porto tenham lugar após a saída estratégica da al-Shebab e recomece a qualquer momento a guerra civil.
O abandono de Kismayo é a última derrota militar da al-Shebab que continua a controlar vastas regiões do sul e centro da Somália, mesmo perdendo um a um os seus importantes bastiões, desde que foi escorraçada de Mogadíscio em agosto de 2011.
Daqui para frente
A pergunta que não quer calar é se a perda de Kismayo significa mesmo uma derrota para os rebeldes islâmicos somalis. Roland Marchal, politólogo e especialista do Corno de África, no Centro Nacional de Pesquisas, em Paris, disse à DW África tratar-se de uma derrota, mas talvez não aquela que forçará a organização a negociar a paz ou a desaparecer.
"É verdade que o porto de Kismayo significa recursos financeiros substanciais devido às exportações para o Quénia e à Etiópia. Mas é uma ilusão pensar que os recursos financeiros da al-Shebab vão diminuir ou desaparecer totalmente. Uma boa parte do financiamento dos rebeldes vem do estrangeiro e por outro lado, as relações da al-Shebab com os meios de negócios permanecem fortes. Menos dinheiro, talvez, mas isso não é um descalabro económico", explica Marchal.
Entretanto, Annette Weber, também especialista do Corno de África no Instituto alemão de Política Internacional e de Segurança, afirma que se deve ainda permanecer prudente, porque se as forças da AMISOM controlam Kismayo, isso não significa o fim da guerra.
"O importante neste combate com al-Shebab é o desaparecimento das ajudas financeiras e o grupo não disporá mais do dinheiro, que ganhava graças à venda do carvão e de outras mercadorias a partir do porto de Kismayo. Mas isso não quer dizer que os insurrectos da al-Shebab foram vencidos só porque não estão mais presentes em Kismayo. Pode-se supor que estejam a caminho das regiões do sul da Somália", alerta Weber.
Observadores notam que impor a autoridade do novo governo somali em Kismayo será um grande desafio, dado o caos que reina na cidade. Por isso, o governo pode estar a pensar em lançar uma mediação entre os clãs como forma de criar uma administração local conjunta, para evitar mais violência.
Autores: Paulin Bashengezi / António Rocha
Edição: Bettina Riffel / Nádia Issufo