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O geólogo alemão dos recursos naturais em Moçambique

1 de abril de 2015

Moçambique vive um boom de recursos naturais. Para explorar recursos como carvão e gás são necessárias informações geológicas precisas. No caso de Moçambique, um alemão foi decisivo para desenvolver a geologia do país.

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Siegfried Lächelt (à dir.) no mato na província do Niassa durante uma expedição de cartografiaFoto: privat

Os seus ex-colegas e amigos chamam-no "Geologie-Papst" ou o "Papa da geologia". O seu nome verdadeiro é Siegfried Lächelt. O cientista alemão é provavelmente o geólogo mais citado na literatura científica sobre Moçambique. Mas apesar da sua alcunha eclesiástica, o próprio não demonstra ares de vaidade. Lächelt é uma pessoa simples e acessível. Não tem problemas em explicar a um "leigo" os conceitos e segredos da geologia como estratos, horizontes e falhas.

Iniciou o seu trabalho em Moçambique, no ano de 1981, como consultor da Direcção Nacional de Geologia no Ministério dos Recursos Minerais de Moçambique, onde chegou através do intercâmbio entre dois países que na altura seguiam a ideologia socialista: a República Democrática da Alemanha (RDA) e a então República Popular de Moçambique.

Trabalhar em Moçambique não seria como na Alemanha

Nos primeiros anos da sua estadia no país, viajou bastante e chegou a conhecer todas as províncias moçambicanas.

Lächelt ainda se lembra dos preparativos da sua primeira expedição."Os alemães gostam da perfeição. Então, a minha pergunta antes da nossa primeira expedição foi: podemos ter uma formação para nos protegermos durante o nosso trabalho? O que faço, quando encontro animais selvagens, cobras etc.?" Pelas respostas percebeu logo que trabalhar em Moçambique não seria como na Alemanha. Disseram-lhe que não existia essa formação.

Lächelt insistiu e finalmente ouviu os seguintes conselhos: "Se fores mordido por uma cobra, olha bem para a cobra, vai ao curandeiro e descreve o aspeto dela. Mas se encontrares a Mamba Verde, esquece, pois não vais ter mais tempo. Se encontrares um leão, olha bem para os olhos dele e recua lentamente para o carro ou para debaixo de uma árvore grande para que o leão não possa saltar."

Geologe Siegfried Lächelt in Mosambik
Lächelt no terreno no momento em que discutem se devem entrar ainda mais no matoFoto: privat

Guerra civil fê-lo trocar o mato pelos arquivos

O primeiro período de Lächelt em Moçambique foi de 1981 a 1985. Mas quando a guerra civil entre a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) e o Governo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) se intensificou, foi forçado a reduzir as viagens pelo país.

"Sentei-me nos arquivos e fiz pesquisas nos documentos que ainda sobravam da época colonial. Depois da guerra civil isto foi muito útil, pois muitos destes documentos foram destruídos durante a guerra. Mas ainda reuni os dados e consegui publicá-los numa grande monografia", conta o alemão. Ficou contente quando viu o impacto da sua obra: "O livro desencadeou a nível mundial um interesse de muitos a realizarem pesquisas, prospecção e a exploração de jazidas em Moçambique."

Geólogo chefe de Moçambique

Depois do fim da guerra, no ano de 1994, Lächelt voltou a Moçambique e assumiu o cargo de geólogo chefe na Direcção Nacional de Geologia. Função que exerceu até 2006. Nesta dúzia de anos, presenciou o início do boom da indústria extrativa no país e escreveu a sua obra prima: "Geology and Mineral Ressources of Mozambique" (em português "Geologia e Recursos Minerais de Moçambique"). O livro de 700 páginas com muitas ilustrações, tabelas e gráficos é tido como a referência no setor.

Geologia como conto de fadas

Siegfried Lächelt Geologe
Siegfried Lächelt mantém uma consultoria de geologia em Berlim, capital da AlemanhaFoto: DW/J. Beck

Hoje, Lächelt tem 84 anos de idade e vive em Berlim. Mas ainda trabalha como consultor de geologia e continua a viajar regularmente para Moçambique.

Lächelt diz que para ele a geologia não é somente um trabalho, mas também um passatempo fascinante: "Se você sai para o terreno como geólogo, vai entender que a geologia é uma ciência histórica. Ela é uma ciência natural, mas não uma ciência exata. E ao contrário da história humana, as pedras e rochas contam a sua história desde o seu início".

Para Lächelt as pedras e rochas são como um livro aberto: "Elas contam a sua história como se fosse um conto de fadas."

O geólogo alemão faz questão de sublinhar que não trabalha apenas por motivos econômicos: "Quando estou num país, alguma coisa tem que sobrar para as gerações vindouras. Isto foi para mim e a minha família um assunto apaixonante, e foi assim que trabalhámos. Acho que não se pode dizer que fizemos algo especial. Apenas cumprimos o nosso dever de trabalho."

Chegou para ajudar o socialismo, acabou por ajudar as multinacionais

Lächelt esteve em Moçambique pela cooperação da então comunista República Democrática da Alemanha. Hoje em dia, as suas pesquisas são usadas por empresas multinacionais para explorar os recursos naturais de Moçambique. A sua missão era fortalecer a economia socialista, mas acabou por ajudar empresas capitalistas. "Não tenho nenhum problema com isso", responde Lächelt.

Diz que se define através do seu trabalho: "Para mim é importante, que o meu trabalho construa algo para Moçambique. Também não tenho problemas na cooperação com as grandes empresas multinacionais. Elas têm o capital e as tecnologias necessários."

Kohlemine Minas Moatize
Minas Moatize - a mina de carvão na província de Tete é propriedade da empresa britânica Beacon Hill ResourcesFoto: DW/J. Beck

Benefícios da exploração das matérias primas

Lächelt acredita que em Moçambique a população local beneficia mais da extração dos recursos naturais do que em muitos outros países. Pensa que para além dos especialistas estrangeiros bem pagos no setor, são criadas mais oportunidades de emprego: "Onde se desenvolve uma mineração com pessoas qualificadas, também crescem as infraestruturas e o comércio. Isto também dá emprego a pessoas com pouca formação. Acho que é preciso dizer que em Moçambique há um desenvolvimento positivo."

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O geólogo também espera impulsos positivos com a exploração do gás da Bacia do Rovuma, no norte de Moçambique. Faz parte das maiores reservas de gás em África e está a atrair investimentos estrangeiros de milhares de milhões de dólares.

Há cinco anos, poucos sabiam destes recursos. Mas Lächelt diz que a existência desta reserva de gás não era um segredo. "Estivemos muito tempo à espera de recursos de gás na Bacia do Rovuma. Houve muitos indícios nesta área", diz o geólogo alemão. "Mas apenas com a geofísica moderna e técnicas inovadoras foi possível explorar a bacia. Ficou demonstrado que existem quase quatro horizontes na mesma zona. Portanto, existe um potencial gigantesco."

O próximo livro de Lächelt

A lista das publicações científicas de Siegfried Lächelt sobre a geologia de Moçambique já preenche uma página A4. Mas apesar dos seus 84 anos, Lächelt não pára de publicar. Um novo livro seu sobre o potencial dos recursos naturais moçambicanos aguarda a sua publicação por uma editora portuguesa.

Geologe Siegfried Lächelt in Mosambik
Durante uma expedição em Moçambique na presença de fogos florestais (Lächelt está à direita)Foto: privat
Johannes Beck
Johannes Beck Chefe de redação da DW África
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