O "papel fundamental" do Papa Paulo VI nas independências
10 de março de 2015Foi há quarenta e cinco anos que o Papa Paulo VI se encontrou no Vaticano com os líderes dos movimentos de libertação de Angola, Agostinho Neto, de Cabo Verde e Guiné-Bissau, Amílcar Cabral, e de Moçambique, Marcelino dos Santos, o único ainda vivo. A reunião histórica foi um passo bastante importante nos processos de independência, lembra o académico angolano António Luvualu de Carvalho.
"Sabemos que o regime salazarista era suportado pela Igreja Católica, quer queiramos, quer não. Portanto, o Papa Paulo VI teve um papel fundamental para fazer uma diplomacia da paz para que se chegasse a uma consciência positiva de que, de facto, os países africanos de língua oficial portuguesa – e todos os outros países africanos – deviam ser independentes."
"Um sinal de esperança"
Após o encontro a 1 de julho de 1970, o Papa deu a cada um dos líderes dos movimentos de independência uma cópia da encíclica "Populorum Progressio", ou Desenvolvimento dos Povos em português. Logo nas primeiras linhas o texto abordava a relação entre colonizadores e colónias. "Sem dúvida, deve reconhecer-se que as potências colonizadoras se deixaram levar muitas vezes pelo próprio interesse, pelo poder ou pela glória, e a sua partida deixou, em alguns casos, uma situação económica vulnerável", dizia a carta papal.
"A encíclica era um sinal de esperança, de que as pessoas deveriam viver em paz", comenta Fátima Viejas, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que também esteve no Vaticano a debater o encontro de 1970.
A mensagem de Paulo VI na época continua atual, afirma Viejas: "Era um sinal de respeito para com a pessoa humana e, ao mesmo tempo, de que cada um tem o direito de ter o mínimo de dignidade de vida e bem-estar. Cada um tem direito à casa, à educação e ao desenvolvimento."
Futuro da CPLP
Murade Murargy, secretário-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), também participou na conferência no Vaticano. Ele destacou a influência do pensamento de Paulo VI na criação da comunidade. Contudo, elenca os principais desafios a serem superados para que a CPLP faça, concretamente, parte da vida dos cidadãos.
"No dia em que, para circular no espaço da CPLP, não se precisar mais de visto, então as pessoas dirão que a CPLP existe", disse Murargy. "Enquanto não puder dizer, como estudante da Guiné-Bissau, que se pode matricular na universidade em Moçambique, ou, como doente, que se pode tratar no Brasil, enquanto não se puder fazer negócios no país que eu quiser, as pessoas não vão sentir que, de facto, a CPLP existe."