O que fará a União Europeia se a Rússia invadir a Ucrânia?
25 de janeiro de 2022Os avisos do Ocidente são cada vez mais claros. Muitos veem uma invasão russa à Ucrânia como uma possibilidade cada vez mais provável.
A Rússia concentrou 100 mil tropas junto à fronteira com o país, e a NATO está a enviar navios e aviões de combate para a Europa de Leste, contrariando as exigências do Kremlin, que quer essas forças removidas.
Para a Europa, isto representa um dilema sério: E se as tropas russas passarem a fronteira e invadirem a Ucrânia?
Os chefes da diplomacia da União Europeia (UE) concordaram que "quaisquer agressões militares pela Rússia à Ucrânia terão consequências e custos severos", de acordo com um comunicado conjunto.
É retórica antiga. Mas de que consequências, ao certo, estamos a falar?
Sanções e ações
Numa cimeira em dezembro, os líderes da UE concordaram com o princípio de aplicar medidas punitivas à Rússia, mas discordaram acerca do que essas medidas poderiam ser.
A Alemanha, a Áustria e a Hungria estão mais ligadas à economia russa do que, digamos, Portugal ou os Países Baixos. Como a UE precisa de unanimidade para avançar com ações políticas, a única coisa que a Comissão Europeia tem neste momento na gaveta é uma série de possíveis sanções.
Diplomatas europeus que estiveram a preparar as sanções disseram que estas seriam aplicadas num prazo de 48 horas em caso de invasão. No entanto, teriam de ser coordenadas com os EUA e o Reino Unido, que também anunciaram planos não especificados para medidas punitivas.
Não se sabe ainda se esses planos incluem a exclusão da Rússia do sistema global de transferências eletrónicas SWIFT ou o fim do gasoduto entre a Rússia e a Alemanha, o Nord Stream 2.
"Sancionar a Rússia também pode ter consequências para a UE porque as economias estão interligadas", diz Amanda Paul, especialista em segurança do Centro de Políticas Europeias, um grupo de pesquisa que promove a integração na UE.
"Pode haver custos a pagar que alguns Estados-membros não estejam interessados em pagar", afirma a especialista. Segundo Paul, as autoridades teriam de considerar a possibilidade de refugiados ucranianos serem forçados a entrar em território da UE e o possível alastramento da desestabilização no país a toda a região do Mar Negro.
Gustav Gressel, pesquisador do Conselho Europeu de Relações Exteriores, considera que só sanções severas poderão mudar a posição do Presidente russo, Vladimir Putin.
"Ele preparou-se para os custos que a Rússia teria de enfrentar em caso de sanções económicas", diz Gressel em entrevista à DW. "Só duras sanções que visem o setor energético atingiriam a Rússia. Outras medidas são mais um incómodo do que um obstáculo, e Moscovo está confiante de que consegue contorná-las", explica.
Especificar "invasão"
Neste momento, um dos maiores debates em Bruxelas está centrado em torno da necessidade de clarificar o que espoletaria as sanções da UE.
Será que isso implicaria uma invasão militar, com tropas russas a atravessar a fronteira da Ucrânia? Ou uma infiltração de "pequenos homens verdes", uma referência a soldados sem insígnias nacionais nos seus uniformes, como foi o caso durante a invasão da Crimeia?
Ou será que a "linha vermelha" para a UE seria o aumento da violência no leste da Ucrânia, onde separatistas pró-Rússia dominam vários territórios graças a financiamento russo? Ou seria um ciberataque contra infraestruturas vitais ucranianas?
Ainda não é claro. Mas os especialistas concordam que a resposta dos EUA e dos parceiros europeus deveria ser conjunta.
Ian Lesser, vice-presidente do Marshall Fund Alemão diz que, "sem coesão entre a Europa e os EUA, Moscovo terá - ou sentirá que tem - carta branca". Na estratégia da Rússia, "separar os parceiros transatlânticos é tão importante como a própria Ucrânia", explica Lesser.
NATO mantém política de "portas abertas"
Para retirar as tropas na fronteira ucraniana, a Rússia exigiu à NATO que afastasse os soldados do Leste europeu, além da garantia de que a Ucrânia e a Geórgia nunca se juntem à organização.
A NATO insistiu que decisões acerca da segurança de cada país são soberanas e que não mudará a sua política de "portas abertas".
No entanto, Lesser acredita que, nos bastidores, há opiniões diferentes: "Na verdade, há muito pouco entusiasmo por parte da UE ou da NATO para que a Ucrânia se junte à organização. Há quem veja um compromisso com a Ucrânia como um problema de segurança", refere.
No que toca à proteção contra agressões russas, a NATO, a que pertence a maior parte dos membros da UE, é clara: Apesar de haver aspirações ucranianas de o país se juntar à Aliança Atlântica, neste momento não é um membro da organização e não está sob a sua proteção.
"Responderemos sempre de determinado modo a qualquer deterioração no nosso ambiente de segurança, inclusive reforçando a nossa postura de defesa coletiva, na medida necessária", frisou o Conselho do Atlântico Norte, o órgão de decisão política da NATO, em dezembro.
A aliança disse estar em posição de ativar, a curto prazo, a sua Força-Tarefa Conjunta de Muito Alta Prontidão, de cerca de 5 mil soldados. Num prazo de 30 dias, esta força inicial poderia ser expandida para até 40 mil soldados, naquilo que a NATO chamou de Força de Reação.
"Forneceremos à Ucrânia mais assistência militar, equipamento e armas defensivas nas próximas semanas", disse a Secretária de Estado adjunta dos EUA, Karen Donfried. "Se a Rússia continuar com uma invasão", acrescentou, "forneceremos mais".
A Alemanha tem atualmente 16.000 soldados destacados na Força de Reação.
Tropas dos EUA na região
Entretanto, o Presidente norte-americano, Joe Biden, pondera enviar milhares de tropas para a Europa de Leste.
O Secretário de Estado Antony Blinken disse à CBS News que os EUA estão "muito concentrados na construção da defesa, na construção da dissuasão".
As autoridades norte-americanas dizem que os planos não incluem destacamentos para território ucraniano, algo que, a acontecer, seria visto em Moscovo como uma grande provocação. Em vez disso, os soldados (entre mil e cinco mil) iriam para a Letónia, Lituânia e Estónia, membros da NATO que estão bastante preocupados com as ações da Rússia.
Em dezembro, a nova ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, visitou a Lituânia e disse entender as preocupações dos aliados bálticos:
"A situação na Ucrânia é muito grave e posso compreender que se sintam ameaçados", afirmou Lambrecht.