O que precisa saber sobre Rafah
27 de abril de 2024Desde o início de fevereiro, Israel debate uma possível ofensiva militar em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. De acordo com a imprensa israelita, na quinta-feira (25 de abril), as forças armadas já concluíram os preparativos para a ofensiva.
Falta apenas a aprovação do governo israelita, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou recentemente que a ofensiva poderia começar "nos próximos dias". A direção do exército calculou publicamente cerca de seis semanas de "combates ininterruptos" para a operação.
No entanto, peritos em segurança não acreditam que a ofensiva esteja iminente, ainda que os rumores estejam a intensificar-se novamente. O vizinho Egipto está atualmente a tentar mediar um novo acordo de reféns entre Israel e o Hamas - na esperança de que isso também evite ou, pelo menos, atrase a ofensiva em Rafah.
Qual é a situação da população em Rafah?
Mais de 80% da população da Faixa de Gaza são refugiados. Dos 2,3 milhões de habitantes, cerca de 1,4 milhões encontraram refúgio em Rafah, depois de as forças armadas israelitas terem capturado o norte da Faixa de Gaza. Rafah é atualmente a cidade mais populosa da Faixa de Gaza.
Os campos de refugiados na região de Rafah estão cheios - faltam alimentos, medicamentos e água potável. "A situação humanitária em Gaza é péssima", afirmou um representante da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, USAID.
No sul da Faixa de Gaza, quase um quarto da população está a sofrer de uma insegurança alimentar catastrófica e as crianças são particularmente afetadas.
Porque é que Rafah é importante para Israel?
Rafah é considerada a última grande base do grupo terrorista Hamas, que levou a cabo um massacre em Israel em 7 de outubro do ano passado e raptou 240 pessoas de Israel para a Faixa de Gaza como reféns.
Israel parte do princípio de que até quatro das antigas 24 brigadas do Hamas ainda se encontram escondidas em Rafah ou debaixo dela. Nesta perspetiva, combatê-las é um passo decisivo para o desmantelamento da organização.
O poder de combate do Hamas foi enfraquecido após sete meses de guerra com Israel, mas o grupo terrorista não foi militarmente derrotado. Embora o número de ataques com rockets contra Israel tenha diminuído drasticamente, a organização continua a dispor de muitos rockets e drones. Os observadores consideram que, até à data, Israel destruiu 70% a 80% do arsenal de armas do Hamas.
Como Israel tensiona proteger os civis em Rafah?
O exército israelita anunciou esta semana que os preparativos para a evacuação dos civis de Rafah foram concluídos. O Ministério da Defesa israelita adquiriu cerca de 40 mil tendas para os civis de Rafah, a fim de alojar as pessoas na cidade e nos seus arredores. A agência noticiosa AP publicou imagens da primeira grande cidade de tendas a oeste de Khan Yunis. Atualmente, não se sabe onde poderão ser instalados outros pontos de abastecimento.
Entretanto, os EUA começaram a construir um porto temporário ao largo da costa. Segundo os norte-americanos, a instalação portuária provisória no norte da Faixa de Gaza poderá estar operacional no início de maio e, a partir daí, facilitar o abastecimento da população civil.
No entanto, a criação de uma infraestrutura funcional para centenas de milhares de pessoas deslocadas internamente exige muitos parceiros. Este processo, que envolve organizações de ajuda, agências das Nações Unidas e Estados doadores, poderá demorar várias semanas. Atualmente, a maior parte da ajuda chega aos campos através do posto fronteiriço de Rafah.
O que os países vizinhos dizem?
Na eventualidade de uma ofensiva militar israelita, o vizinho Egito receia que muitos refugiados da cidade fronteiriça de Rafah possam deslocar-se para o Sinai egípcio. Neste contexto, os dirigentes do Cairo ameaçaram Israel com a anulação do tratado de paz.
Os planos de ofensiva foram também fortemente criticados pelo aliado mais importante de Israel, os EUA. O Presidente dos EUA, Joe Biden, apelou ao primeiro-ministro israelita, em fevereiro, para que não lançasse a ofensiva sem um plano credível de proteção da população civil. E o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou na semana passada: "Não podemos apoiar uma grande operação militar em Rafah".