Odebrecht vai recorrer de condenação por trabalho escravo
3 de setembro de 2015Neoli Rodrigues Machado é soldador há quinze anos e mora na pequena cidade brasileira de Adamantina. Em setembro de 2012, mesmo empregado, não resistiu a uma proposta de trabalho em Angola.
"Fui um dos primeiros que foi para lá. O salário era melhor do que aqui", afirma em entrevista à DW África.
O soldador brasileiro iria participar na construção da Companhia de Bioenergia de Angola, a Biocom, uma fábrica de açúcar e etanol na província de Malanje. Mas, ao chegar, encontrou um cenário muito diferente do prometido.
"Fomos lá fazer exames e não havia seringas esterilizadas. Havia 700 operários brasileiros e 600 angolanos e apenas 10 banheiros para todos esses homens tomarem banho. Até andavam macacos dentro da cozinha. Há fotos."
Essas imagens chegaram, no início de 2013, às mãos do procurador Rafael de Araújo Gomes, que iniciou uma ação contra a Odebrecht, sócia da Biocom.
"A investigação revelou que essa obra foi marcada pela submissão de trabalhadores a condições degradantes, análogas às de escravo", diz Gomes. Haveria inclusive uma "restrição à liberdade, fazendo com que os trabalhadores se tornassem praticamente cativos do canteiro de obras."
Odebrecht condenada a pagar $14 milhões
Por causa da ação, a Odebrecht foi condenada e terá de pagar cerca de 14 milhões de dólares de indemnização. Na época da denúncia, em entrevista à DW África, a empresa, representada pelo vice-presidente de sustentabilidade Genésio Lemos Couto, negou as irregularidades.
"Nós rebatemos totalmente a acusação. Nós fazemos as coisas com dignidade para os brasileiros, os angolanos e os seres humanos", afirmou o responsável em junho de 2014.
Agora, a Odebrecht reafirma a inocência, argumenta que detém uma participação minoritária na Biocom e promete recorrer da condenação.
MP pede indemnização 10 vezes superior
Embora elogie a decisão da Justiça do Trabalho brasileira, o Ministério Público também vai recorrer, pedindo uma indemnização dez vezes maior do que a inicialmente determinada.
Segundo o procurador Rafael de Araújo Gomes, isso deve-se "à extrema gravidade dos factos cometidos e à extraordinária capacidade económica do grupo".
Atualmente, a Odebrecht já está a ser investigada no âmbito da operação Lava Jato, que apura um esquema bilionário de corrupção na Petrobras, a maior empresa brasileira. O presidente-executivo da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e três outros executivos estão presos desde junho.