Onde estão os angolanos formados pela Sonangol?
14 de julho de 2016A informação foi avançada pelo portal angolano MakaAngola e pelo semanário português Expresso. Os especialistas que deverão ser recrutados nos próximos meses juntar-se-ão aos cerca de 50, maioritariamente portugueses, que atualmente assessoram Isabel dos Santos, a nova presidente do conselho de administração da Sonangol, no quadro da restruturação da empresa.
A notícia da contratação de mais de uma centena de consultores portugueses ainda não foi confirmada oficialmente, mas isso não tem impedido vários setores da sociedade de questionarem onde estão os angolanos que têm estado a ser formados há vários anos pela maior empresa pública de Angola, dentro e fora do país.
"Essa é uma boa pergunta a que a Sonangol devia responder", afirma Francisco Miguel Paulo. O economista do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola defende que é preciso saber como está a gestão dos quadros, quando irão voltar e se serão integrados ou não.
"Se a Sonangol gasta milhões e milhões de dólares para formar técnicos no exterior, tem como contactá-los", acrescenta.
Além do apoio à formação de quadros nacionais em Angola e no estrangeiro, a Sonangol conta ainda com dois institutos superiores no país: o Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências, em Luanda, e o Instituto Nacional de Petróleos, na província do Kwanza Sul.
A economista Regina Santos acredita que a vinda dos mais de 100 especialistas estrangeiros terá como base o contrato assiando entre a Sonangol e três consultoras internacionais: o Boston Consulting Group, a PricewaterhouseCoopers e a Vieira de Almeida e Associados. "Eu parto do princípio que esses especialistas estão a vir na base dos contratos celebrados entre a Sonangol e essas grandes empresas. Não creio que sejam contratos individuais", explica.
Contratação sem concurso público
Durante a tomada de posse, no início de junho, como presidente da Sonangol, Isabel dos Santos prometeu aumentar a rentabilidade da empresa e pautar por uma "gestão transparente".
Mas, entre o discurso e a prática, o certo é que a contratação das três consultoras foi feita sem concurso público, sublinha a economista Regina Santos. "Em princípio, a lei da contratação assim o indica: antes de contratar uma empresa tem que se proceder a concurso publico", lembra.
O economista Francisco Miguel Paulo considera que face à crise no mercado petrolífero e à perspetiva da continuidade de Isabel dos Santos à frente da Sonangol, é preciso saber onde é que a petrolífera irá buscar dinheiro para contratar tanta mão-de-obra estrangeira.
"A questão é como vai proceder ao pagamento num momento em que estamos em dificuldades de obter divisas, mesmo para importar bens de primeira necessidade como medicamentos e alimentos", sublinha.
Outra questão que se põe, segundo o analista, é saber qual é valor agregado que este consultores vão trazer à Sonangol. "Chamamos a isso análise custo-beneficio. Qual é o custo desses consultores e qual é o proveito que vão trazer à Sonangol?", pergunta Francisco Paulo. "Estamos a falar em termos de possibilidade, porque até agora a Sonangol não confirmou essa informação".
A DW África contactou o departamento de comunicação e imagem da Sonangol, sem sucesso