Ondjaki lança livro sobre a imigração africana em Portugal
24 de setembro de 2014O escritor angolano, Ondjaki, acaba de lançar em Lisboa mais um título do conjunto da sua crescente produção literária. A obra, inspirada numa peça radiofónica, foi apresentada na terça-feira, 23 de setembro em Lisboa, por coincidência no dia do aniversário do autor, que disse à DW África, a propósito do título invulgar: “Bem, costuma-se dizer que para entender o título tem que se ler o livro. Mas eu acho que há aqui uma brincadeira com estas pessoas, que é um grupo de africanos, que se encontra em Lisboa”.
Acontece que neste preciso dia da narrativa, todos eles estão à procura de peixe frito e não encontram: “E o morto é um senhor que morreu e que anda de um lado para o outro por causa de um jogo de futebol”. Porque, explica Ondjaki, todas as histórias, incluindo a de uma gravidez indesejada, se passam numa determinada data: o dia em 2006, em que Portugal jogou contra Angola no Campeonato de Futebol do Mundo: “Então é aí que se mete á questão do futebol. Para além da questão da gravidez e do morto, eles estão todos ali a gerir aquela ansiedade do jogo”.
Migração com fronteiras
O escritor angolano decidiu agora dar voz aos africanos que vivem e viveram em Portugal. Mais precisamente, trata-se de uma série de textos cheios de humor sobre a africanidade na Europa. Ou melhor, sobre o lado humano das personalidades que se sobrepõem às nacionalidades diz Ondjaki: “É sobre o encontro de todos estes imigrantes em Portugal. Eles conhecem-se, aliás, na firma onde eles estão para se legalizar. Num edifício que aqui no livro é chamado “Migração com Fronteiras”. Isto porque obviamente os países estão cheios de fronteiras para emigrantes: “ E o teatro justamente, sobrepõe-se a isso, o teatro é uma linguagem sem fronteiras”.
Do texto, Ondjaki destaca uma figura, que considera interessante: “É um jovem nascido em São Tomé, mas que já cresce na Mouraria (bairro popular de Lisboa), e que é aquele malandro que se desenrasca”. É também alguém com um português “muito específico”, que gosta de consultar o dicionário, diz o escritor, e “acaba por ser o fio condutor dessa história, esse jovem chamado JJ Mouraria”.
O papel dos imigrantes no mundo
O texto em forma de teatro acaba por apelar à reflexão, pois o tema é universal, explica o Ondjaki: ”Isso acaba por levar em conta o papel dos imigrantes em todos os países, não só em Portugal. Angola tem imigrantes, Cabo Verde tem imigrantes, Moçambique tem imigrantes e Portugal também”.
O livro realça pois que por detrás dos imigrantes, e por detrás dos papéis do imigrante, estão sempre pessoas: “Com os seus dramas, com as suas urgências e com os seus afetos”.
O que fascinou o editor Zeferino Coelho, da editora portuguesa Caminho/Leya, foi a forma como o escritor angolano aborda a temática da imigração: “Aquilo que me parece mais inovador é o facto de ser uma peça de teatro que põe em cena os problemas da comunidade africana aqui em Portugal”. E não se trata apenas de tematizar os problemas com as autoridades portuguesas, mas também os problemas entre si, e o choque entre esta variedade de culturas e as gerações diferentes: É um livro extremamente divertido e extremamente profundo”, conclui o editor. O público pode apreciar ambos no lançamento, pois a apresentação foi feita por atores africanos radicados em Portugal
O lançamento em Angola quando possível
Segundo Ondjaki, “Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito” será depois lançado em Luanda, Angola, logo que possível: “Estou à espera que o livro seja impresso em Luanda, mas será. Acho que agora vai sair no Brasil, a seguir de Portugal, e depois então em Angola".
Autor de vários títulos, entre contos, poesia e romance, Ondjaki – cujo pseudónimo significa “guerreiro” em umbundu, uma das línguas nacionais de Angola, tornou-se uma presença regular no mundo literário de língua portuguesa e não só.