ONG denuncia decapitação de crianças em Cabo Delgado
16 de março de 2021"Naquela noite, a nossa aldeia foi atacada e casas foram queimadas. Quando tudo começou, eu estava em casa com os meus quatro filhos. Tentámos escapar para a floresta, mas eles agarraram o meu filho mais velho e decapitaram-no. Não podíamos fazer nada porque também seríamos mortos."
O testemunho desta mãe é um dos relatos trazidos a público, esta terça-feira (16.03), pela organização Save the Children, que denuncia o assassinato de crianças pelas mãos de insurgentes em Cabo Delgado.
"A Save the Children está indignada e profundamente entristecida por relatos de que crianças estão a ser alvos deste conflito. Todas as crianças têm direito à vida e à segurança e as crianças devem ser protegidas em todas as circunstâncias, incluindo guerras e conflitos armados. Para as crianças que podem ter testemunhado o assassinato de seus irmãos, o seu sofrimento pode durar anos", continua a ONG.
Para Chance Briggs, diretora nacional da Save the Children em Moçambique, "todas as partes neste conflito devem garantir que as crianças nunca sejam alvos."
"Eles devem respeitar as leis humanitárias internacionais e de direitos humanos e tomar todas as ações necessárias para minimizar os danos civis incidentais, incluindo o fim de ataques indiscriminados e desproporcionais contra crianças", reitera.
Fome severa
Segundo a organização, quase um milhão de pessoas está a enfrentar fome severa como resultado direto deste conflito, incluindo pessoas deslocadas e comunidades que acolhem.
"A ajuda humanitária é desesperadamente necessária, mas poucos doadores priorizaram a assistência para aqueles que perderam tudo e para os seus filhos", numa altura em que o mundo lida também com a Covid-19, refere Chance Briggs.
A resposta da Save the Children, segundo a ONG, já chegou a mais de 70.000 pessoas, incluindo mais de 50.000 crianças, com programas de educação, proteção infantil, saúde, água e saneamento.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária, com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos. Algumas das incursões de rebeldes foram reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020.
No início de março, a Amnistia Internacional denunciou constantes violações de direitos humanos em Cabo Delgado onde, segundo a organização, essas violações seriam não só por parte dos insurgentes como também de forças do Governo.