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ONG moçambicana desaconselha confinamento total

Leonel Matias (Maputo)
12 de junho de 2020

A sociedade civil em Moçambique apela para um desconfinamento gradual e atento à segurança individual e coletiva. O Instituto para Democracia Multipartidária apresentou um balanço do estado de emergência.

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O Instituto para Democracia Multipartidária vê a necessidade de um maior ajuste à situação pelos cidadãosFoto: DW/D. Anacleto

O Instituto para Democracia Multipartidária (IMD, na sigla inglesa) afirma que, apesar dos moçambicanos estarem a colaborar na observância das medidas impostas no âmbito do estado de emergência, em vigor desde um de abril, continua a assistir-se a uma postura pouco ajustada do cidadão. A organização aponta o abandono da quarentena, o funcionamento clandestino de alguns locais de diversão, o aumento repentino de mobilidade, assim como a inobservância dos limites de lotação nos transportes e das regras ligadas às cerimónias fúnebres como algumas das violações que considera graves.

O instituto refere que os primeiros 11 dias do mês de junho foram preocupantes, tendo em conta o registo recorde de casos positivos da Covid-19, num total de 230, que corresponde a 47% do total dos casos positivos cumulativos contabilizados até ao momento. Constituiu também motivo de preocupação o nível de propagação da pandemia no setor da saúde, com o registo de pelo menos 14 profissionais infetados.

Restauração do funcionamento da economia

Moçambique ultrapassou esta sexta-feira, (12.06) a barreira do meio milhar de casos positivos de Covid-19. As autoridades de saúde anunciaram 20 novas infeções nas últimas 24 horas, elevando o número cumulativo de casos para 509.

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Conferência de imprensa do IMD em Maputo, esta sexta-feiraFoto: DW/L. Matias

Não obstante, o IMD defende a retoma gradual da normalidade na vida da população. Sublinha que o equilíbrio entre a propagação da Covid-19 e a restauração do funcionamento da economia requer alguma resiliência, capacidade de adaptação e implementação de medidas de segurança individual e coletiva.

Para a organização, o país não deve decretar o "lockdown", ou seja, o confinamento total. "Um eventual avanço para o nível quatro estaria em contradição com aquilo que é o contexto sócio-económico do nosso país. Nós não temos condições, em termos de estrutura da maior parte da população, para ter meios de sobrevivência numa situação em que não se pode sair de casa", disse Dércio Alfazema, coordenador da ONG.

Reabertura das escolas merece dúvidas

O Instituto para Democracia Multipartidária encoraja a descentralização da testagem dos casos suspeitos da Covid-19 para as províncias, assim como o alargamento do seu rastreio para permitir um melhor controlo dos casos positivos desconhecidos.

A organização também é de opinião que devem ser adotadas medidas especificas que desencorajam a mobilidade entre zonas de alto risco de propagação comunitária da Covid-19, e medidas de maior controle de transição entre uma província e outra.

Mosambik Inhambane | Maskentragende Passagiere in einem Kleinbus
Nem sempre é fácil manter a distância adequada no dia a dia Foto: DW/L. da Conceição

Em relação à possibilidade de abertura do setor da educação, em particular no ensino geral, Felicidade Chirinda disse, ao apresentar o relatório do Instituto para Democracia Multipartidária, que "prevalecem dúvidas e receios face aos desafios estruturais existentes que caraterizam o setor em Moçambique, turmas numerosas, aulas ao ar livre, falta de carteiras, saneamento precário, falta de água, entre outros, e o impacto que a retoma das aulas pode trazer para o setor de transporte, que se tem mostrado com algumas limitações."

Polícia na mira da crítica

O relatório refere ainda a atuação da polícia, apontando que têm sido reportados alguns casos de excesso de zelo por parte da corporação. Por exemplo, na última quarta feira (10.06) a polícia teria recolhido nas ruas e conduzido para o comando provincial pelo menos 150 crianças que se encontravam a circular sem máscaras.

"Recomendamos que haja alguma responsabilização, porque uma das formas de atuação da polícia podia ser também uma abordagem de natureza mais pedagógica", disse Osman Cossing, gestor do IMD.