Sudão: ONU alerta para deterioração da situação humanitária
8 de maio de 2023Em meados de abril, o exército sudanês liderado por Abdel Fattah al-Burhan entrou em confronto com os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF) de Mohammed Hamdan Dagalo.
Desde que o conflito eclodiu, várias correntes acusam o ocidente de estar a financiar a guerra no Sudão. No entanto, numa entrevista exclusiva à DW, o alemão Volker Perthes nega estas acusações.
"A responsabilidade por este conflito recai sobre as figuras militares sudanesas e, com isto, refiro-me aos líderes de ambos os lados e de ambas as instituições militares que estão em guerra entre si. Ambos os lados estão a tentar obter apoio internacional, não os atores estrangeiros que tentaram efetivamente diminuir as tensões", justificou.
De acordo com o representante especial da ONU, a maior parte dos combates está atualmente na capital, Cartum, e na região ocidental do Darfur.
Ao invés de encontrar culpados pelos conflito no Sudão, Perthes defende um cessar-fogo urgente no país. E alerta que os "caçadores de fortunas" ou mercenários dos Estados do Sahel, como o Mali, o Chade e o Níger, estão a vir apoiar a RSF no Sudão.
"Não se trata de uma política oficial destes Estados, mas sim de pessoas à procura de oportunidades para roubar e enriquecer", sublinha.
Comité trilateral de diálogo
Neste fim de semana, a Liga Árabe anunciou a criação de um comité trilateral formado por Egito, Arábia Saudita e o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, para criar corredores de conversações com as partes beligerantes no Sudão.
Neste sábado (06.05), os Estados Unidos e a Arábia Saudita iniciaram conversações indirectas entre as Forças Armadas sudanesas e a RSF em Jeddah, à busca de um acordo de cessar-fogo.
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, diz que esta iniciativa é de se apoiar: "Aproveitemos esta oportunidade e coloquemos os interesses do país acima de qualquer outra coisa e participemos nas conversações de uma forma que tragam a estabilidade ao Sudão e preserve as instituições nacionais do colapso, bem como a sua soberania."
Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito, Sameh Shoukry, defendeu um cessar-fogo imediato no Sudão.
"E que haja as garantias e um compromisso com este cessar-fogo, que não seja apenas para fins humanitários. Tem de se parar com o derramamento de sangue no Sudão, mas também preservar a segurança dos civis entre o povo sudanês irmão", frisou.
À entrada na quarta semana dos confrontos armados violentos no Sudão, estima-se que mais de 700 morreram, 5.000 ficaram feridas, 335 mil deslocadas e 115 mil refugiadas. Várias equipas humanitárias internacionais continuam a ajudar na evacuação das pessoas em zonas de risco.