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Oposição quer retirada dos militares sul-africanos da República Centro-Africana

Silva-Rocha, Antonio2 de abril de 2013

Que sequência dar à missão militar sul-africana na República Centro-Africana? A polémica surgiu depois da morte de 13 militares sul-africanos durante golpe da rebelião Séléka contra o presidente François Bozizé (24.03).

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Centenas de pessoas reuniram-se esta terça-feira (02.04) na base aérea sul-africana de Swartkop, em Pretória, nas exéquias oficiais dos 13 soldados sul-africanos que foram mortos pela rebelião durante o golpe militar na República Centro-Africana (RCA), no passado dia 24.03.

O Presidente sul-africano, Jacob Zuma, elogiou o trabalho realizado pela missão militar sul-africana na RCA, tendo destacado a bravura dos soldados na defesa da paz em África. Contudo, a morte dos 13 soldados num país estrangeiro tem dividido os sul-africanos. A administração Zuma tem sido acusada de enviar soldados para o estrangeiro para proteger interesses comerciais do partido no poder, o ANC, mas o Presidente tem refutado essas críticas.

Discursos emocionados em cerimónia fúnebre

Foi um momento de tristeza e de dor quando familiares, amigos e membros das forças armadas sul-africanas se reuniram para homenagear os 13 soldados mortos durante a sua missão na República Centro-Africana. 27 militares foram feridos nos confrontos com os rebeldes da coligação Séléka, quando estes se dirigiam para a capital, Bangui.

O Major Giyane foi o comandante do grupo naquele fatídico dia, tendo afirmado na cerimónia fúnebre que os confrontos foram muito violentos. "Foi no nosso regresso, quando já havia pouca luminosidade, que caímos na fatal emboscada que ceifou a vida dos 13 melhores soldados sul-africanos que estavam sob meu comando", revelou.

De acordo com o governo sul-africano, a missão militar foi enviada em 2007 para treinar e formar o exército centro-africano. Em seguida, no início deste ano, mais soldados foram enviados para proteger os formadores, quando começaram os confrontos com os rebeldes.

No seu discurso de homenagem aos soldados mortos, o presidente Jacob Zuma elogiou os soldados que deram a vida pela paz no continente africano. Por outro lado, saudou os militares que sobreviveram aos ataques que, juntos, levantaram bem alto a bandeira da África do Sul no estrangeiro.

"Saudamos e honramos todos esses militares pelo grande sacrifício que fizeram pagando com a própria vida a realização da paz em África", afirmou Zuma no seu discurso, acrescentando: "Os nossos homens em missão morreram por uma causa nobre. Morreram em defesa da política das relações exteriores do nosso país".

Thembisile Jilima, que falou em nome das famílias enlutadas, manifestou o apreço pela assistência dada pelo governo. "Nós exigimos a dignidade que esses heróis merecem, que morreram, devem ser enaltecidos pelos media e as comunidades dentro e fora do nosso país", lembrou.

Oposição exige saída das tropas sul-africanas da RCA

Entretanto, as mortes dos soldados em terras estrangeiras têm dividido os políticos e a sociedade civil sul-africanos. O maior partido da oposição, a Aliança Democrática, vai apresentar uma moção no parlamento para forçar o governo a retirar imediatamente o total das suas tropas da República Centro-Africana.

A polémica subiu de tom depois de os media sul-africanos terem estabelecido laços entre a missão e os projectos de negócios montados na República Centro-Africana pela Chancelor House Holdings, ou seja, fundos de investimentos ligados ao governo sul-africano desde 1994, ao ANC, nomeadamente, na extração e venda de diamantes centro-africanos.

O Presidente Zuma já disse rejeitar "qualquer tipo de insinuações sobre o envio desses soldados por razões que não estivessem ligadas aos interesses nacionais, em particular, e aos de África em geral". Zuma afirmou, por outro lado, que o seu governo está a avaliar a situação em concertação com a União Africana, antes de tomar uma posição definitiva sobre o repatriamento imediato ou não dos soldados sul-africanos.

Oposição dividida quanto a novo governo da RCA

Entretanto, na República Centro-Africana, o novo governo formado pelo autoproclamado presidente Michel Djotodia, reuniu-se pela primeira vez esta terça-feira (02.04). Os titulares são oriundos principalmente da rebelião, da oposição e da sociedade civil.

Seis dos nove ministros da oposição, entre eles o primeiro-ministro Nicolas Tiangaye, participam neste governo de união, apesar de um boicote anunciado por um coletivo dos partidos da oposição, que criticam Michel Djotodia e Nicolas Tiangaye de terem decidido de maneira unilateral sobre a composição da equipa governamental.

Joseph Bendunga, ex-Presidente da Câmara Municipal de Bangui, a capital, e membro fundador do coletivo da oposição democrática, afirmou, em declarações à DW África, ter sido "designado para ocupar o cargo de Ministro da Agricultura e Pecuária", não tendo "tomado parte nesta primeira reunião ministerial, tal como o ministro dos Correios e das Telecomunicação e alguns membros da oposição democrática".

"Penso que os partidos irão analisar o assunto e as consequências", considera Bendunga, concluindo: "Todos somos responsáveis pelos nossos atos".

Tudo indica que antes de ocupar qualquer cargo governamental, alguns membros da oposição querem dialogar com as autoridades e serem eles próprios a escolher os seus membros para a equipa de governação. Joseph Bendunga garante que já informaram Tiangaye de que "é necessário que o terreno seja limpo , que os contornos desta transição sejam muito claros e que o programa seja aceite por todos os elementos que tomaram parte nos acordos de Libreville [assinados no início do ano no Gabão]".

Observadores prognosticam que a cimeira extraordinária da Comunidade Económica dos Estados de África Central, CEEAC, esta quarta-feira (03.04) poderá ser uma ocasião para uma redistribuição das cartas no seio do governo de transição na República Centro-Africana.