Oposição queniana reivindica vitória de Odinga
10 de agosto de 2017Musalia Mudavadi, membro da Super Aliança Nacional (NASA, sigla em inglês), afirmou esta quinta-feira (10.08) que os dados da Comissão Eleitoral mostram que o candidato da oposição queniana, Raila Odinga, ganhou as eleições de terça-feira e deve ser declarado Presidente do Quénia.
Segundo Mudavadi, a oposição tem "dados completos" e imagens dos ecrãs dos computadores da Comissão Eleitoral que mostram Odinga à frente do Presidente Uhuru Kenyatta.
"Os dados que confirmam o resultado autêntico e legítimo das eleições presidenciais mostram que os dois candidatos principais obtiveram os seguintes votos: Raila Amolo Odinga, 8.041.726 votos. Uhuru Kenyatta, 7.755.428 votos," declarou numa conferência de imprensa.
Enquanto centenas de apoiantes de Odinga foram às ruas para comemorar, Abdi Yakub Guliye, um alto funcionário da Comissão Eleitoral, considerou a declaração como "ridícula" e disse que os números não se baseiam em dados fiáveis.
O site da Comissão Eleitoral, que está a publicar os resultados à medida que são transmitidos eletronicamente das assembleias de voto, mostrava Kenyatta com 8,1 milhões de votos, à frente de Odinga com 6,7 milhões.
De acordo com o site, os resultados provêm de 98% das assembleias de voto, mas precisavam ainda de ser comparados com os formulários assinados pelos funcionários eleitorais e delegados dos partidos de cada uma das mais de 40.000 assembleias de voto.
Acusações de fraude
O opositor Raila Odinga denunciou que houve manipulação informática da contagem para favorecer o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta.
A chefe da missão da União Europeia (UE), Mariette Schaake, admitiu, que tais acusações são "sérias" e devem ser investigadas. As missões de observadores da UE, União Africana (UA) e Commonwealth declararam, no entanto, que as eleições de terça-feira respeitaram as normas internacionais e apelaram à calma até que termine a contagem dos votos.
Schaake afirmou em conferência de imprensa em Nairobi que as eleições foram "bem organizadas e transparentes".
Também o ex-Presidente sul-africano Thabo Mbeki, chefe da missão de observadores da UA, avaliou o processo como "justo e transparente" e pediu que seja dado "tempo à Comissão Eleitoral para terminar a contagem". O responsável assegurou, no entanto, ter "grande confiança" no processo de comparação dos resultados com as atas eleitorais, o que demonstrará "se houve pirataria" informática.
O chefe da missão de observação eleitoral da Commonwealth, o ex-Presidente ganês John Mahama, considerou que o processo de contagem parece "credível, transparente e inclusivo" e pediu aos quenianos que aguardem com tranquilidade os resultados.
Da mesma opinião comunga a antiga primeira-ministra do Senegal, Aminata Touré, que lidera a missão de observação da organização não governamental norte-americana Carter Center: "Todos os delegados dos partidos receberam uma cópia eletrónica dos dados antes de serem enviados para a Comissão Eleitoral. Então, este processo foi transparente", avaliou Touré.
Tentativa de hacking
Esta quinta-feira, Wafula Chebukati, presidente da Comissão Eleitoral do Quénia, voltou a garantir que o sistema informático não sofreu qualquer interferência externa.
"Os relatórios preliminares mostram que não houve hacking. Houve uma tentativa de hacking, mas sem sucesso. Instamos todas as partes a continuarem a exercitar a moderação, especialmente neste momento crítico," afirmou Chebukati.
Depois de um encontro com Raila Odinga, na quarta-feira), o ex-secretário de Estado norte-americano John Kerry, que também é observador internacional, pediu aos líderes quenianos para transmitirem aos cidadãos confiança na integridade do processo eleitoral.
"Vamos assumir por um momento que alguém, de alguma forma, entrou no sistema. Se aconteceu ou não, a questão é: [Os hackers] foram capazes de alterar os resultados? Eles conseguiram mudar alguma coisa? Isso é mensurável," ponderou John Kerry.
Depois de a oposição denunciar alegada fraude nos resultados divulgados pela CNE, houve confrontos entre apoiantes de Odinga e de Kenyatta. As forças de segurança usaram gás lacrimogéneo e balas reais contra os manifestantes, fazendo pelo menos quatro mortos.