Oposição alerta para riscos de fraude eleitoral no Zimbabué
13 de julho de 2018Não é certo que se vivam tempos tranquilos até 30 de julho, dia em que o Zimbabué vai a votos para eleger o próximo Presidente do país. Apoiantes da oposição ameaçam por um travão às eleições presidenciais. As palavras tornar-se-ão ações, caso a Comissão Eleitoral do país não dê atenção às exigências de igualdade nas condições de voto, alertam.
Na quarta-feira (11.07), milhares de cidadãos saíram às ruas e marcharam por toda a cidade de Harare, capital do Zimbabué, exigindo acesso ao boletim de voto e fornecimento de uma lista credível de eleitores. Teme-se que a Comissão Eleitoral esteja conivente com o partido no poder, comandado pelo Presidente Emmerson Mnangagwa, para manipular as eleições.
"Eleitores-fantasma"
Os apoiantes da oposição acreditam na existência de vários "eleitores-fantasma" e exigem uma auditoria à lista de candidatos, para eliminar nomes que aparecem de forma repetida. Afirmam ainda que algumas moradas não existem e suspeitam que alguns números de identificação nacional não sejam verdadeiros.
Nelson Chamisa, o principal candidato à presidência pela oposição, falou aos jornalistas, depois de apresentar uma petição à Comissão Eleitoral. O candidato de 40 anos, comentou que "o boletim de voto deve ser feito de forma transparente" e deve estar "de acordo com a lei do país."
No início desta semana, as autoridades da Comissão Eleitoral mostraram-se disponíveis para ouvir as preocupações da oposição, mas negam as acusações de "eleitores-fantasma". A presidente da Comissão, Priscilla Chigumba, afirma que "deve ser assegurado que todos os eleitores registados possam provar que são cidadãos do Zimbabué", deixando ainda o aviso de que "se houver algum problema com a identificação do cidadão, será excluído e não poderá votar."
Pedido inviável
Outro dos pedidos da oposição é o acesso prévio aos boletins de voto. O partido líderado por Nelson Chamisa pretende verificar fisicamente o boletim de voto, para garantir a inexistência de qualquer irregularidade.
No entanto, esse pedido não é viável. De acordo com a lei do Zimbabué, não é permitido que os partidos políticos verifiquem fisicamente a cédula antes do dia das eleições, por razões de segurança.
A contestação das próximas eleições presidenciais poderão ofuscar as relações com a comunidade internacional, que o Zimbabué tem vindo a desenvolver, depois do golpe militar que forçou Robert Mugabe a renunciar ao poder em novembro, do ano passado.
Observadores internacionais, incluindo da União Europeia (UE), já estão no país, para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, até ao dia das eleições, marcadas para o dia 30 de julho.
Direitos humanos
A Amnistia Internacional defende que os candidatos e partidos políticos no Zimbabué devem romper com o regime de Robert Mugabe e colocar nos seus programas para as eleições de 30 de julho o respeito e proteção dos direitos humanos.
Num documento agora publicado e intitulado "Romper com o Passado", a organização não-governamental fez sete recomendações, nomeadamente o fim da pena de morte, das perseguições políticas que resultavam no desaparecimento, tortura e morte de opositores e o fim da impunidade das forças de segurança.
Pede também que acabem os despejos forçados, apela à liberdade de expressão e de associação, ao respeito pelos tratados regionais sobre os direitos humanos e pede maior atenção para políticas de saúde para mulheres e jovens.