Oposição em Angola pede retirada imediata da Missang da Guiné-Bissau
18 de abril de 2012Há mais de uma semana, as autoridades angolanas em Luanda anunciaram o fim da missão de apoio à reforma do sector de defesa e segurança da Guiné-Bissau (Missang). O início dessa retirada esteve marcado para o último sábado (14/04), mas a Missang ainda permanece naquele país lusófono.
O envolvimento de Angola na crise político-militar na Guiné-Bissau irritou a oposição, que pede o retorno imediato dos militares ao seu país. Segundo Alcides Sakala, porta-voz da UNITA, a presença dos militares angolanos na Guiné Bissau está na origem do clima de tensão que se criou e conduziu à atual situação.
"Esta força foi enviada sem o conhecimento da Assembleia Nacional de Angola e sem que tivesse havido alguma prudência por parte do Executivo angolano para que uma eventual força na Guiné-Bissau tivesse um mandato do Parlamento", criticou Sakala. Segundo ele, Angola se envolveu em uma situação complexa e não deveria tomar parte em nenhuma intervenção no país lusófono.
"Mesmo que se venha a constituir uma força [internacional], a nossa posição é que Angola não devia participar neste contingente, dada a situação que as forças angolanas criaram neste país africano amigo de Angola". Alcides Sakala, sublinhou ainda que o seu partido defende ponderação na abordagem do assunto, para que Angola não seja arrastada para um conflito de maiores proporções.
O Porta-voz da UNITA disse que o maior partido da oposição em Angola com representação parlamentar pensa interpelar o ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros de Angola para entender quais foram as motivações por trás do envio das tropas à Guiné-Bissau. "Nós não concordamos com o envio de forças sem um debate prévio na Assembleia Nacional. Angola está em paz há dez anos, tudo o que é matéria de relações internacionais é parte do interesse nacional", destacou.
Soldados angolanos escorraçados
O Partido da Renovação Social (PRS), também na oposição em Angola, advoga o regresso urgente dos militares angolanos. Para Joaquim Nafoia, as forças angolanas só devem participar de uma ação na Guiné-Bissau se for no âmbito das forças da ONU.
"A forma como as Forças Armadas [angolanas] foram praticamente escorraçadas da Guiné-Bissau foi uma humilhação para o país e nós não podemos permitir. Apesar dos golpes fazerem parte do menu político dos guineenses, o Executivo em Angola tem parte na situação e, por isso, as Forças Armadas devem voltar já e o problema da Guiné-Bissau deve ser resolvido pelos próprios guineenses", exortou.
O porta-voz do PRS criticou ainda a falta de autorização prévia por parte do parlamento angolano. "O governo angolano não consultou a Assembleia Nacional. O povo angolano não teve conhecimento do envio dos seus filhos para a Guiné-Bissau e isso é grave. O presidente da república, mais uma vez, violou a Constituição, não respeitou os angolanos", disse Nafoia.
Também a Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE) já exigiu a saída imediata da Missang da Guiné-Bissau e atribui à comunidade internacional a responsabilidade de assegurar a estabilidade, a tranquilidade e a paz naquele país lusófono de África.
Autor: António Rocha
Edição: Francis França/Carla Fernandes