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Moçambique: "Os outros a morrerem? Onde é que há paz?"

4 de outubro de 2019

No dia em que Moçambique celebra a paz, população em Cabo Delgado marcha para pedir o fim do conflito armado. Lá, cidadãos entendem que não motivos para celebrar a paz.

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Marcha em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, pelo fim dos ataques armadosFoto: DW/D. Anacleto

Há cada vez mais vozes que se levantam em repúdio ao clima de terror que se vive em alguns distritos de Cabo Delgado, criado por indivíduos cuja identidade não é do domínio público.

Esta sexta-feira (04.10.), em Pemba, durante a celebração do 4 de Outubro, Dia do Acordo Geral de Paz, cidadãos exigiram das autoridades, medidas concretas para pôr fim aos ataques armados que já tiraram a vida a mais de 200 pessoas, entre civis, militares e supostos agressores.

Nazarena Mutemba, natural de Mocímboa da Praia, um dos distritos mais atingidos, disse que não vê motivo de celebração da data, e questiona: "A  população está mal lá em Mocímboa da Praia, vamos dizer que estamos em paz? Paz dessa maneira? Os outros a morrerem? Onde é que há paz?"

E Nazarena apela: "Temos que ter união para eliminarmos aquilo que está a acontecer do outro lado, porque são moçambicanos. Eu estou a chorar muito."

Ataques no centro também são preocupação em Cabo Delgado

Mosambik Faruque Juma Ibraimo
Faruque Juma Ibraimo, representante do Conselho Islâmico em Cabo DelgadoFoto: DW/Delfim Anacleto

O grito de socorro vem também das confissões religiosas, que organizaram uma marcha nas ruas da cidade de Pemba, com apelos para a preservação da paz, como condição essencial para o progresso de Moçambique.

Os crentes lamentam também o recrudescimento da violência armada no centro de Moçambique e lembram que só se pode alcançar o progresso se todos abraçarem a causa da paz.

Faruque Juma Ibraimo, muçulmano, lembra que "ainda esta semana houve um ataque na zona da Gorongosa [efetuado por] pessoas desconhecidas. O Governo tem estado a envidar esforços para garantir a ordem e a tranquilidade. E os muçulmanos têm tido representantes, como é o exemplo do sheik Said Habibe que trabalhou na busca da paz."

A palavra dos líderes religiosos

Emmerson Ubisse, representante do Conselho Cristão de Moçambique em Cabo Delgado, fala das consequências dos ataques às populações: "Hoje estaríamos a celebrar os grandes ganhos que o país conseguiu, mas no norte do país cidadãos inocentes e desarmados, cidadãos que todos os dias acordam para fazer a vida, para elevar a soberania deste país são alvos de ataques, perdem as suas casas, suas terras, filhos porque há pessoas que se não identificam com a paz."

Moçambique: "Os outros a morrerem? Onde é que há paz?"

E porque há correntes que associam as ações dos insurgentes ao Islão, o sheik Faruque Ibraimo é de opinião que "os muçulmanos precisam envidar esforços difundindo a mensagem real do islão, o que esta religião é, quais são os seus princípios e pautar por mais formações. Porque o nível de percepção sobre a religião ainda é muito baixo."
Os apelos do Governo

As autoridades governamentais também alinham no coro de condenação dos atos de terror que acontecem desde Outubro de 2017.

Em breves declarações, a administradora do distrito de Pemba, Joaquina Nordino, considerou que "sendo hoje dia que comemoramos o dia da paz, queremos deixar um apelo para todos aqueles que criam estas hostilidades na zona norte da nossa província, porque não é aquilo que nós esperávamos, não é aquilo que vai ajudar Moçambique crescer. Nós vamos crescer quando tivermos a paz, abraçarmos a cultura de trabalho."

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