"Paguem aos professores como eles estão a pedir", apela MEA
18 de abril de 2023Em entrevista à DW África, a porta-voz do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) acusa o Estado de sabotagem, depois de a polícia ter impedido uma marcha de protesto no sábado passado (15.04). O objetivo era pressionar as autoridades governamentais a negociar com o Sindicato dos Professores do Ensino Superior (SINPES). O setor está em greve há quase dois meses.
Mas os estudantes recusam baixar os braços e prometem mais marchas, todos os sábados, até que o Governo se "canse", garante à DW Arlinda Milena Ernesto, que revela ainda o que aconteceu na marcha do fim de semana, em que o presidente do movimento, Francisco Teixeira, foi detido - tendo sido depois liberado.
DW África: Francisco Teixeira foi agredido e chegou a ser detido pela polícia no último sábado. O que levou à sua detenção?
Arminda Milena Ernesto (AME): No dia 15 seria a nossa marcha. O Governo ligou para nós no dia 14. Fomos para lá porque, aqui em Angola, para fazer uma marcha, é preciso escrever uma carta e dar a entrada no governo provincial. Nós fizemos isso. Mas após chegar quase ao dia 15, ligaram-nos. Disseram que queriam reunir-se connosco. Lá fomos com o Teixeira e, quando lá chegamos, disseram que não tinham nenhuma nota sobre a nossa marcha. Aqui em Angola, o Dia da Paz é dia 4. Foram comemorar no dia 15.04. Não entendemos o porquê. Vimos que é sabotagem que eles fizeram para nos privar de sair às ruas.
Lá mesmo dentro do comando, a conversar, eles disseram que nós, se saíssemos, iríamos ser reprimidos. E lá o presidente Teixeira disse "nós vamos sair às ruas, porque a nossa marcha foi convocada antes da marcha da JMPLA. Nós até lhes dissemos o seguinte: "Não vamos sair daqui tristes com os polícias, porque nós sabemos que vocês obedecem ordens". Eles disseram que não, que não obedecem ordens, que estão só a cumprir a lei.
Mas a própria lei diz que é toda manifestação pacífica. Nós somos estudantes. Na nossa manifestação, nunca usamos armas. Eles usam. O país está num momento em que parece que há uma guerra entre povo e o próprio Governo. Então, preferimos correr o risco. Quando lá chegamos, estava cheio de polícias, estava tudo já arquitetado, tudo armado e, qualquer coisa, eles podiam prender. Vem uma carrinha e pegam o Francisco Teixeira. Logo pegaram-no e o levaram para uma unidade policial. Mais tarde, conseguimos entrar em contacto com o pessoal, mesmo um advogado também ajudou para a libertação do presidente Teixeira.
DW África: No fim de semana, houve uma marcha pela paz, em Luanda, mas o protesto do Movimento dos Estudantes Angolanos foi impedido. Há dois pesos e duas medidas por parte das autoridades quanto à realização de atividades deste género?
AME: Eles sabotaram a nossa marcha. Já que eles competiram, as marchas vão continuar. Aquela do dia 15 foi a primeira. Temos essa no próximo sábado. Então, esse mês todo de abril vamos continuar com as marchas e queremos ver se o próprio Governo vai ter paciência de todos os sábados nos proibir de fazer a marcha, como fizeram no sábado passado.
DW África: Após quase dois meses de greve dos professores do ensino superior, acredita ainda numa solução?
AME: A solução é muito fácil. É realmente o Governo olhar para os professores como se deve, ou seja, como merecem ver reconhecido o seu próprio mérito. Porque sem dinheiro ou sem motivação a pessoa não faz quase nada, e sem respeito ainda mais. É uma coisa desmotivante. Porque para existir, o próprio Presidente passou na escola, o polícia passou na escola, todos nós aqui onde estamos e exercemos a nossas funções - tal como eles que estão lá neste parlamento - passaram pela escola. Então, o que se pede aí é só que eles olhem para os professores e cumpram com os seus parâmetros. Paguem os professores como eles estão a pedir.