Papa apela à paz na República Centro-Africana
30 de novembro de 2015Na manhã desta segunda-feira (30.11), o líder da Igreja Católica visitou a mesquita central de Bangui, na capital, onde recordou que cristãos e muçulmanos são "irmãos". "Juntos digam 'não' ao ódio, à vingança, à violência, em particular à que se comete em nome de uma religião ou de Deus", afirmou o pontífice, após um encontro com a comunidade muçulmana na mesquita.
À chegada ao país, no domingo (29.11), o papa declarou que a sua visita é feita em nome da paz. Foi recebido no aeroporto pela Presidente de transição, Catherine Samba-Panza, antes de seguir para o Palácio Presidencial, onde dirigiu a sua primeira mensagem às autoridades políticas e diplomáticas do país.
O pontífice deposita esperança nas eleições presidenciais e legislativas no país, marcadas para 27 de dezembro. "O meu maior desejo é que as consultas nacionais que vão ter lugar dentro de algumas semanas permitam ao país entrar serenamente numa nova etapa da sua história."
"Lição de coragem"
A República Centro-Africana é palco de violência desde que os rebeldes de maioria muçulmana, os Séléka, tomaram o poder, em março de 2013. A violência dos rebeldes contra os civis provocou milhares de mortos. Os Séleka foram expulsos em dezembro de 2013, na sequência da intervenção militar francesa. Desde então, decorre um lento processo de retorno à paz.
Temia-se que o Papa pudesse cancelar a visita ao país, após os últimos episódios de violência na capital. Desde o fim de setembro, os confrontos fizeram mais de 100 mortos. Nos últimos dois anos, o número de refugiados no país atingiu quase um milhão.
Após receber o papa Francisco, a Presidente de transição da República Centro-Africana pediu perdão em nome da classe dirigente pela "descida aos infernos", em alusão à violência no país. Catherine Samba-Panza elogiou a "lição de coragem e determinação" que o papa deu ao viajar a Bangui.
Por sua vez, o papa Francisco pediu ao Governo de transição e aos seus cidadãos que se inspirem no lema do país - "unidade, dignidade e trabalho" - para superar o conflito inter-religioso que nos últimos anos custou a vida a milhares de pessoas.
Mensagem de paz
No domingo, o Papa visitou o campo de refugiados de São Salvador. "Vivemos muito mal. Há aqui muitas pessoas que não têm abrigo, nada para comer", conta Maurice Nguenda, o coordenador do campo, que acolhe actualmente cerca de 4 mil pessoas. "O papa desafiou-nos a dialogar para alcançar a paz, a reconciliação. Estamos prontos a reconciliar-nos com os nossos irmãos muçulmanos."
Francisco quer ainda encontrar-se com representantes da comunidade muçulmana – a quem deseja transmitir, igualmente, a sua mensagem de paz. "A todos os que usam armas neste mundo, lanço um apelo: pousem todos esses instrumentos de morte. Armem-se com justiça, amor e misericórdia, os únicos garantes da paz."
Antes de regressar a Roma, o papa ainda celebra uma missa no estádio Barthelemy Boganda, em Bangui, onde é esperada presença de mais de 20 mil pessoas.