1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Parceria de Angola e Portugal continua, dizem analistas

João Carlos (Lisboa)22 de outubro de 2013

As economias angolana e portuguesa têm muito para dar uma à outra, segundo os analistas, apesar da polémica gerada pelas declarações do Presidente de Angola, indiciando o fim da parceria estratégica entre os dois países.

https://p.dw.com/p/1A48e
Foto: DW/J. Carlos

Com a Sonangol e Isabel dos Santos na linha da frente, o investimento angolano continua na ordem do dia e muito bem cotado no mercado português. Abrange vários setores, da banca às telecomunicações, passando pela agricultura e tecnologia.

As relações comerciais entre Portugal e Angola também vão de vento em popa. As duas economias têm muito para dar uma à outra, consideram os analistas, depois da polémica gerada pelas recentes declarações do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que referiu, no seu discuso da semana passada sobre o Estado da Nação, que as relações com Portugal não vão bem, indiciando o fim da parceria estratégica entre os dois países.

"Investimentos são muito bem-vindos", diz Portugal

Os governantes e empresários portugueses têm afirmado nos últimos anos, depois da viagem oficial do presidente Eduardo dos Santos a Portugal, em 2009, que os investimentos angolanos são bem-vindos.

Millenium BCP
Edifício do banco português Millenium BCP, em LisboaFoto: DW/J. Carlos

Após o acordo de paz, em 2002, a economia angolana começou a ganhar pujança e liquidez, que permitiram ao Estado traçar uma estratégia de investimentos e aposta também no plano externo. Hoje, a participação de capital angolano em empresas portuguesas é diversificada, predominantemente no setor da banca e das telecomunicações. O país africano já é considerado um dos investidores com maior posição na Bolsa de Valores de Lisboa (PSI 20).

"Neste momento, penso que os investidores angolanos já constituem o grupo que mais investimento têm no PSI20", afirma João Cantiga Esteves, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). "Nas empresas portuguesas, julgo que Angola já é mesmo a primeira investidora do ponto de vista geográfico", acrescenta.

Sonangol e Santoro na linha da frente

Pelas contas do Diário Económico, no total, as aplicações bolsistas feitas por entidades angolanas valem 2,8 mil milhões de euros. A petrolífera angolana, Sonangol, e a Santoro, de Isabel dos Santos, filha primogénita do Presidente de Angola, estão no topo dos investimentos feitos em Portugal. São parceiros estratégicos na petrolífera portuguesa GALP, por intermédio da Amorim Energia, detida a 55% por Américo Amorim e em 45% pela Esperanza Holding, controlada pela Sonangol.

Com a recente fusão entre as operadoras ZON e Optimus, Isabel dos Santos reforçou a sua posição nas telecomunicações portuguesas, ao equilibrar em 50% a parceria com a Sonaecom.

No Millennium BCP, a estatal Sonangol é o maior acionista de referência, com quase 20% do capital do banco português. No vasto horizonte de intenções e investimentos em Portugal, Isabel dos Santos também é acionista no Banco Português de Investimentos (BPI) e no Banco Espírito Santo (BES), grupo português que tem parceria com o BES África e a ESCOM.

Telekommunikationsbetreiber Zon
Edifício da empresa de telecomunicações portuguesa ZONFoto: DW/J. Carlos
Galp Portugal
Petrolífera portuguesa GalpFoto: DW/J. Carlos

Estas apostas só foram possíveis graças à abertura do Governo de Lisboa, tal como refere o jornalista Celso Filipe, autor do livro “O Poder Angolano em Portugal – presença e influência do capital de um país emergente”.

"O que proporcionou também este tipo de movimento foi o apoio político inequívoco dado pelos governos portugueses a estas apostas", explica o jornalista. "Recordo que quando José Sócrates - então primeiro-ministro de Portugal - foi a Angola, disse que os investimentos em Portugal são bem-vindos. Mais tarde, quando Pedro Passos Coelho tomou posse como primeiro-ministro, foi a Angola e só fez um pequeno acrescento em relação ao discurso do seu antecessor: os investimentos angolanos em Portugal são muito bem-vindos", recorda ainda Celso Filipe.

Die portugiesische Bank BES
Banco Espírito Santo (BES)Foto: DW/J. Carlos

Angola: o quarto destino das exportações portuguesas

Pelas posições que ocupa na Galp, na Zon Multimédia e no BPI, Angola já ultrapassa a China, Itália e Espanha entre os países bem colocados no mercado acionista português. Apesar de levantar interrogações sobre a origem do financiamento, o capital angolano aparece igualmente ligado a aquisições ocorridas em empresas tecnológicas, no setor imobiliário e em explorações agrícolas.

No plano das relações comerciais bilaterais, os dados oficiais revelam uma evolução crescente. Em 2012, Angola foi o quarto maior destino das exportações portuguesas, tendo comprado bens no valor de três mil milhoes de euros. Trata-se de uma relação que a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola quer ver reforçada.

"Angola é o quarto destino de exportações portuguesas mas, e queremos realçar isto, Angola exportou mais para Portugal do que Portugal para Angola. É um dado novo, muito importante e interessante. Significa que o objetivo da Câmara de Comércio é que as duas partes trabalhem em conjunto e em grau de igualdade", diz o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola, Carlos Bayan Ferreira.

Apesar de alguns constrangimentos, sobretudo de ordem burocrática, Ferreira qualifica como "excelentes" as relações entre os dois países e admite haver espaço para mais investimentos mútuos. O gestor Helder de Oliveira, com investimentos em Angola, acredita que a parceria estratégica questionada pelo presidente angolano será reatada e reforçada quando se realizar a cimeira bilateral ao mais alto nível.

"Há neste momento uma situação conjuntural negativa, como houve em muitos momentos da história do relacionamento entre os dois países mas não tenho dúvidas de que qualquer deles têm a lucrar com essa parceria estratégica", conclui o gestor Helder de Oliveira.

Parceria de Angola e Portugal continua, dizem analistas

Helder de Oliveira
Helder de Oliveira, gestor português com investimentos em AngolaFoto: DW/J. Carlos
Saltar a secção Mais sobre este tema