1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Mulheres angolanas protestam contra violência

11 de dezembro de 2018

Angolanas e angolanos protestam nas redes sociais contra violência doméstica, raptos e assassinatos de mulheres. E usam um slogan: "parem de nos matar".

https://p.dw.com/p/39poe
Foto: picture-alliance/dpa/K.-J. Hildenbrand

A campanha "Parem de nos matar" surge na sequência do assassinato de uma advogada angolana, que foi encontrada pela polícia numa fossa depois de ter sido dada como desaparecida. O marido já confessou o crime.

Muitas mulheres angolanas têm recorrido às redes sociais, como o Facebook, para deixar mensagens de repúdio a este e outros casos. Nas mensagens escrevem a frase "parem de nos matar", à semelhança das palavras de ordem em protestos na América Latina contra os feminicídios, ou colocam apenas fotografias negras, em sinal de luto.

"Nos últimos tempos, têm sido constantes os ataques, raptos e sequestros e assassinatos de mulheres. Quando falamos 'parem de nos matar', é no seu todo. Vimos o caso do padrasto que violentou uma menina de quatro anos", afirma Lurdes Lameira.

Lameira também já foi vítima de violência no lar. "Eu abandonei tudo. Saí apenas com a minha roupa, umas quatro peças, e os meus filhos e nunca mais voltei, porque havia uma ameaça de morte", conta em entrevista à DW África.

Luanda Frauen Demonstration gegen Gewalt
Protesto de mulheres angolanas em novembro de 2017Foto: DW/M. Luamba

Dezenas de milhares de casos

Segundo o movimento "Ondjango Feminista", no ano passado, houve 62 mil casos de violência contra as mulheres - esta é a maior violação de direitos humanos em Angola.

"Não podemos continuar a invisibilizar a violência contra as mulheres com discursos de que 'toda a violência importa' ou 'homens também são violentados' ou ainda 'mulheres estão a se fazer de vítimas'. Mulheres têm sofrido por longos períodos de tempo por conta dessa invisibilização e justificação de que seus corpos podem ser feridos, maltratados, violentados e mortos", escreveu esta terça-feira (11.12) Leopoldina Fekayamãle na página de Internet da organização.

Mulheres angolanas protestam contra violência

Que soluções?

Em novembro de 2017, centenas de pessoas marcharam contra a violência. Este ano, enquanto não gritam nas ruas, gritam nas redes sociais.

Será que a campanha vai resultar? Lurdes Lameira espera que sim: "Espero que sim. Estamos a fazer o possível, a chamar os homens à razão, até porque não são apenas as mulheres que aderiram a campanha, também há homens. Um homem nasceu de uma mulher. Nenhum homem veio do ventre de outro homem."

Entre as várias causas da violência contra a mulher angolana, o sociólogo Carlos Conceição destaca os casamentos prematuros que se registam na sociedade: "Em muitas circunstâncias, temos verificado que há casais que constituem as suas famílias sem que se conhecessem melhor. Casam-se por pressão, ligada à família, à igreja, à sociedade e a uma questão que tem a ver com a própria posição social."

Para se reduzir o atual índice de violência contra mulheres, diz, é necessário que as instituições sociais sejam fortalecidas, "nomeadamente, a família, a sociedade, a Igreja e a própria escola."