Partidos em campanha: diferentes estilos, diferentes meios
2 de agosto de 2017As diferentes táticas dependem em grande escala dos meios materiais disponíveis, afirma o jornalista e analista angolano, Reginaldo Silva, em entrevista à DW: "Eu, a brincar, até costumo dizer que afinal não há apenas duas divisões, mas há três: uma em que está o MPLA sozinho, devido à sua robustez financeira, resultante de um conjunto de fatores históricos. E depois tens dois partidos - a UNITA e a CASA-CE. E a seguir tens então a terceira divisão."
MPLA com acesso a marketing profissional
De facto, o MPLA com um avanço de "anos luz" em relação aos outros partidos no que diz respeito a meios técnicos, como aliás aconteceu também nas eleições de 2008 e 2012.
Isso é evidente quando se escuta os "tempos de antena" do MPLA, nas rádios e televisões: fica claro que o partido no poder dispõe de meios sofisticadíssimos. A qualidade de som e imagem são "topo de gama". Basta dizer - a título de exemplo - que o partido é acionista da maior empresa de marketing e publicidade do país - a ORION.
Reginaldo Silva conclui: "Os outros partidos não têm a capacidade que o MPLA tem de ir de município para município, colocar autocarros, colocar meios à disposição para trazer pessoas para os centros urbanos, onde os comícios têm lugar."
Oposição aposta nos votos de protesto e no carisma dos seus candidatos
Resta aos partidos da oposição "jogar" com o descontentamento da população, sobretudo, devido à crise económica, assim como confiar no carisma dos seus candidatos; carisma que alegadamente falta ao candidato do regime, João Lourenço.
O candidato da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, é, aparentemente, o candidato que mais apela às emoções do eleitorado. O seu discurso, os seus gestos e o seu estilo fazem lembrar o histórico líder da UNITA, Jonas Savimbi.
Abel Chivukuvuku, recorda o jornalista e analista Reginaldo Silva, foi durante largos anos membro da UNITA, e nunca escondeu o seu apreço por certas facetas do caráter do falecido líder do galo negro: "Claro que as pessoas ligadas à UNITA têm esta herança no quadro da oratória. Os gestos, a linguagem, a forma como se fala: eventualmente se possa fazer, de facto, essa conotação."
Isaías Samakuva, o líder da UNITA, em termos de retórica, não atinge as capacidades de Abel Chivukuvuku, dizem os observadores. Ele prefere apresentar-se como estadista, capaz de conduzir a transição de forma ordeira e pacífica. O discurso de Samakuva parece nítidamente mais comedido, afirma também Reginaldo Silva: "Samakuva tem essa imagem de ser uma pessoa mais 'low profile', mas na campanha ele tem-se soltado bastante! Mas como na televisão e nos próprios tempos de antena recebemos apenas uma parte da realidade, ficamos com essa impressão do líder da UNITA."
Pequenos partidos: Conseguirão escapar à extinção?
Restam os três pequenos partidos que concorrem às eleições em Angola no dia 23 de agosto de 2017: São os "partidos da terceira liga", como diz o jornalista e analista, Reginaldo Silva: Trata-se da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), um partido histórico, mas que continua muito dividido entre a ala de Lucas Ngonda e a ala de Ngola Kabango. Outro partido concorrente é o PRS (Partido de Renovação Social), que também atravessou uma fase de transição, substituindo o seu presidente histórico, Eduardo Kuangana, por Benedito Daniel. Concorre ainda um partido novo, a Aliança Patriótica Nacional - APN - de Quintino Moreira.
Os meios destes três pequenos partidos são reduzidíssimos, recorda Reginaldo Silva. A campanha dos mesmos é, por conseguinte, muito menos visível. O marketing político praticamente não existe: "Em termos de resultados eu até receio que algum desses três pequenos partidos possa não conseguir ultrapassar a cláusula dos 0,5 por cento dos votos expressos, o que significaria que poderá pender sobre eles a ameaça de extinção."
Todos partidos são iguais perante a lei eleitoral. As táticas, estilos e sobretudo possibilidades são completamente diferentes nesta campanha eleitoral Angola 2017.