Passado político impõe desafios ao presidente eleito do Senegal
26 de março de 2012
Os resultados oficiais das eleições presidenciais do Senegal são esperados até terça ou quarta-feira. Mas, na maioria das estações de sondagem, Macky Sall ficou aparentemente bem à frente de Abdoulaye Wade. Mesmo no seu próprio local de voto, a capital Dacar, Wade deverá ter perdido. Aí o presidente cessante chegou mesmo a ser vaiado na primeira volta.
Resignação de Wade surpreende a maioria
Poucos contavam que Abdoulaye Wade se aposentasse e aceitasse a derrota sem nenhum tipo de contestação. Durante semanas, houve protestos porque ele teimou em tentar uma terceira temporada no poder, apesar de a Constituição apenas permitir dois mandatos. Membros da sociedade civil chegaram a dizer “que protestariam contra Wade nem que o fizessem ao longo de 25 anos". Isso já não é necessário.
"Wade não tinha outra escolha senão reconhecer a derrota. As tendências cedo ficaram claras. Já às 20 horas [locais de domingo], as tendências estavam claras", diz Aliou Sané, porta-voz do movimento de protesto juvenil "Y en a marre" – ou "Chega!".
Vitória da oposição, promessa de mudanças
O Senegal, que já era conhecido na região pela sua estabilidade política desde a independência, parece reafirmar essa reputação. O novo homem forte no Estado já anunciou que vai dar uma nova vitalidade ao país. Macky Sall afirma que vai garantir que o Estado não desperdice mais dinheiro como no passado. Ao mesmo tempo, a sua vitória foi uma vitória para a liberdade do povo senegalês, agricultores, pescadores, mulheres e jovens.
A vitória de Sall nas eleições deveu-se principalmente a três fatores: Muitos senegaleses estavam fartos de Abdoulaye Wade, do seu governo e dos rumores de que ele pretendia fazer do filho, Karim, o seu sucessor. Além disso, durante a campanha eleitoral, Sall foi o único dos 13 candidatos de oposição, que viajou por todo o país, para além de Wade. No entanto, o apoio da oposição foi também crucial. Na primeira volta, Sall ficou em segundo lugar mas desta vez os outros 12 candidatos apoiaram-no.
"Juntos vamos trabalhar para reconstruir o Senegal. É um trabalho que todos esperam, mas também é um trabalho que se espera de cada um. Viva o Senegal! Viva África!”, declarou o presidente eleito.
Passado de Sall impõe desafios ao mandato
No entanto, Sall veio da ala de Wade. A partir de 2001, Sall foi várias vezes ministro sob a presidência de Wade. Em 2004, foi primeiro-ministro e, em 2007, presidente da Assembléia Nacional.
A ruptura com Wade ocorreu em 2008/2009, quando Macky Sall cometeu o erro de chamar o filho do presidente para uma audiência no Parlamento, para esclarecer um orçamento enorme para a preparação da Conferência Islâmica - caso que até hoje ainda não está justificado. O presidente levou esta ação a peito e Sall perdeu todas as funções e teve de procurar novos apoios. Fundou o seu próprio partido, a Aliança Para a República (APR) e tornou-se presidente da câmara da cidade de Fatick.
Para Aliou Sané, porta-voz do movimento de protesto juvenil "Y en a marre" – ou "Chega!" - agora é que Sall terá de mostrar o que vale. "O grande desafio para Macky Sall é agora resolver problemas sociais, em especial para garantir que a comida volte a ser mais barata. Além disso, ele tem de arranjar formas de se livrar do mau estilo de governação. Infelizmente ele não vai passar uma temporada bonita... ou então, será uma temporada muito curta”, conclui Sané.
Autora: Carla Fernandes
Edição: Cris Vieira / Renate Krieger