Patrice Trovoada clama vitória nas legislativas em São Tomé e Príncipe
13 de outubro de 2014A Comissão Eleitoral Nacional ainda não divulgou resultados oficiais das eleições de domingo, mas o candidato a primeiro-ministro da Ação Democrática Independente (ADI) já clama vitória. Patrice Trovoada diz, com base na contagem de votos paralela, que conquistou uma maioria absoluta, tendo conseguido entre 30 e 33 mandatos num total de 55 assentos na Assembleia Nacional.
Trovoada acrescentou este domingo (12.10.) que recebeu um telefonema do líder do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe / Partido Social-Democrata (MLSTP/PSD), Jorge Amado, a felicitá-lo pela vitória.
"Com estes resultados, assistimos a uma clarificação da situação política nacional através do voto determinante a favor da ADI", disse Patrice Trovoada, que foi afastado do poder em dezembro de 2012, depois dos três partidos da oposição unirem forças e aprovarem na Assembleia Nacional uma moção de censura ao Governo.
"Banho" foi "escandaloso"
Este domingo, mais de 92 mil eleitores são-tomenses foram chamados às urnas para eleger o novo Parlamento, Governo regional e assembleias distritais. As pessoas afluíram em massa às urnas logo nas primeiras horas da manhã.
Olívio, natural do distrito de Lobata, no norte da ilha de São Tomé, foi um dos eleitores que preferiu votar cedo. "É a primeira vez que vou votar em São Tomé porque estive fora durante vinte anos. Estou a gostar do ambiente", disse. Olívio garante que não recebeu o "banho", o seu voto não foi comprado.
O mesmo não terá acontecido com outros eleitores, segundo o candidato da ADI, Patrice Trovoada. "Os partidos do arco do poder levantaram dois milhões de dólares em 'cash' há dois dias", que terão sido usados para comprar votos à boca das urnas, afirmou.
Sem citar nomes, o candidato revelou que o dinheiro levantado num dos bancos privados do país pelos partidos no poder concorrentes a estas eleições para a compra de consciência viola a convenção contra o branqueamento de capitais e o código de conduta saído do diálogo nacional promulgado pelo Presidente são-tomense, Manuel Pinto da Costa.
"Para terem uma ideia, seria praticamente um mês de salário da função pública para ser usado na compra de consciência", disse Trovoada. "Achamos isso escandaloso mas acreditamos, mesmo assim, na vitória."
"Ingerência" é "autêntica vergonha"
Em dia de eleições, o líder do maior partido da oposição recusou falar sobre a composição de um futuro Governo. Por seu lado, Osvaldo Vaz, o cabeça-de-lista do MLSTP/PSD, que também votou em Lobata, disse que já tinha uma ideia de figuras para o seu executivo, estando confiante na vitória. "Acredito que a mensagem do MLSTP/PSD passou", afirmou Vaz, antes do adversário Patrice Trovoada vir a público declarar-se vencedor.
Entretanto, o Presidente são-tomense acusou Portugal de ingerência nos assuntos do país, pelo facto de quatro deputados portugueses terem acompanhado Patrice Trovoada no seu regresso às Ilhas a 3 de outubro.
"Estou convencido que não foram os partidos que enviaram esses deputados para aqui", disse Manuel Pinto da Costa. "Isso não vai perturbar de maneira nenhuma as nossas relações com Portugal, mas é uma autêntica vergonha que eles tenham contribuído para tentar sujar o nome de São Tomé e Príncipe, levados por indivíduos com pretensões que não são pretensões do povo são-tomense."
Pinto da Costa, que foi duramente criticado pelo partido da oposição durante a campanha eleitoral por ter sustentado a queda do Governo liderado por Patrice Trovoada, foi mais longe nas suas declarações: "A estadia [dos deputados] aqui deve tê-los levado à conclusão que São Tomé e Príncipe não é um país governado por alguém que devia estar no Tribunal Penal Internacional."
Se, por um lado, o chefe de Estado são-tomense diz que existe democracia em São Tomé e Príncipe, o filho do ex-Presidente da República, Miguel Trovoada, afirma que ele não é fugitivo.
"Já ouvi que devia estar fora do país desde sexta-feira. Os são-tomenses, de facto, querem respostas concretas para o emprego, para a juventude, e não uma política feita na lama", afirmou Patrice Trovoada.