Música de África é portadora de potência em afetos
19 de outubro de 2018Uma das principais referências da música moderna angolana, Paulo Flores, a comemorar 30 anos de carreira, é um dos cabeças de cartaz do 21.º Festival da Lusofonia de Macau, que começa esta sexta-feira (19.10) e termina no domingo (21.10). São esperadas pelo menos 25 mil pessoas no certame.
Com uma longa tradição, a edição deste ano oferece um programa de atividades muito diversificado, nomeadamente uma amostra cultural de cada uma das comunidades lusófonas residentes em Macau, gastronomia típica, espetáculos de música, dança e jogos para o público de todas as idades.
Ao som dos ritmos empolgados de semba de Angola, ao lado do conceituado artista guineense Manecas Costa, que é um dos elementos da sua banda, Paulo Flores tem apresentado aos chineses as vivências e experiências musicais que o marcaram ao longo dos anos. Tal tem despertado interesse junto do público asiático, que surpreendentemente já conhecia de cor as letras das canções mais antigas do angolano, disse Paulo Flores à DW África.
Música sem fronteiras
"De facto, é uma verdade quando se diz que a música não tem fronteiras, não tem língua", comenta. "É tão curioso ver chineses novos e velhos emocionados a cantar, mesmo sem perceberem a letra. Mas percebem o amor que nós estamos a transmitir, o que torna mais fácil essa aproximação entre as pessoas. Acho que a música tem esse encanto e essa capacidade", diz o músico.
Com três concertos já realizados em Macau com a sua banda que inclui elementos de Cabo Verde, Guiné-Bissau e Angola, Paulo Flores acaba por perceber a dimensão daquilo que partilha no palco através das suas composições melódicas, que é no fundo contar a história, a amizade e a lusofonia. Para galvanizar o público chinês, Paulo Flores viajou no tempo para resgatar as memórias do passado, trazer de volta os temas editados na década de 80, no início da sua carreira artística. "Cherry" do álbum "Kapuete Kamundanda", lançado em 1988, foi o tema mais solicitado pelos fãs chineses.
Nos últimos três anos, Paulo Flores editou três álbuns: "O País Que Nasceu Meu Pai", "Bolo de Aniversário" com o qual venceu o Angola Music Awards, na categoria de "Álbum do Ano" e "Kandongueiro Voador", o mais recente disco de originais. Paulo tem 16 álbuns publicados.
Com uma musicalidade tradicional, semba, kizomba e outros ritmos, o autor, compositor e intérprete tem viajado de Xangai a Benguela, de Lisboa a Nova Iorque ou de Berlim ao Rio de Janeiro para apresentar composições inspiradas na mais intrínseca música urbana tradicional de raíz angolana, que contam histórias de ontem, hoje e amanhã.
Para Manecas Costa, um dos mais conhecidos artistas guineenses, a forma como os chineses vibraram e cantaram as músicas em português e crioulo da Guiné-Bissau fez com que se sentissem em casa em pleno continente asiático.
"Sentir esse carinho, respeito e admiração pelo nosso trabalho é sentimo-nos em casa. É sentir que a nossa língua está a ser falada na China através da música. E mostra que os chineses se interessam pelas nossas histórias, as nossas músicas e culturas", refere o artista.
Os dois nomes sonantes da música dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) sobem ao palco novamente no sábado (20.10).
Exposições, bebidas e petiscos
As 10 comunidades lusófonas residentes em Macau - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Goa, Damão, Diu, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Macau - exibem exposições para darem a conhecer a música, dança, artesanato, trajes tradicionais, literatura, petiscos e bebidas típicas dos seus países ou regiões, que não só injetam vitalidade no Festival como também permitem aos visitantes ficar a conhecer mais a fundo a cultura de cada um dos países, segundo o Instituto Cultural que organiza o evento.
O Festival da Lusofonia articula-se com a semana cultural da China e países lusófonos que está a decorrer desde segunda-feira (15.10) com a participação de mais de 130 artistas com concertos no Largo do Senado, no coração de Macau, e na Doca dos Pescadores.
Entre estes artistas estarão grupos de Portugal (D.A.M.A), Cabo Verde (Grace Évora), Angola (Paulo Flores), Timor-Leste (Black Jesuz), Moçambique (Moza Band), Brasil (Banda Circulô), Guiné-Bissau (Rui Sangara e Ivan Barbosa), São Tomé e Príncipe (Alex Dinho) e China (Grupo Artístico Folclórico de Songjiang).