Cinco momentos cruciais da tensão militar em Moçambique
1 de agosto de 20191. Primeiro encontro entre Nyusi e Dhlakama em Maputo
Tudo começou em 2014, quando foram conhecidos os resultados das eleições gerais. O maior partido da oposição em Moçambique, a Resistencia Nacional Moçambicana (RENAMO), queixou-se de fraude eleitoral e, em protesto, boicotou a tomada de posse dos seus membros nas assembleias provinciais e dos 89 deputados no Parlamento.
Os assentos da RENAMO na Assembleia da República ficaram vazios no primeiro dia das sessões. O boicote só foi ultrapassado num encontro a 7 de fevereiro de 2015 entre o Presidente Filipe Nyusi e o falecido líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.
No final do encontro, que decorreu à porta fechada, os dois dirigentes assumiram o compromisso de manter as conversações. "Posso dizer que o país não terá problemas. Da maneira como nos conhecemos, como conversámos, posso dizer que tudo correu bem", disse na altura Afonso Dhlakama. Filipe Nyusi afirmou na altura que "sempre quando dois irmãos se encontram e falam é sempre bom. Foi bom termos falado".
Dhlakama fez uma digressão pelo país, anunciando que o partido iria nomear governadores para as províncias onde reivindicava ter ganho, nas eleições de 2014.
2. Emboscada no Zimpinga
Tudo parecia estar bem, até que a 25 de setembro de 2015 o mundo é surpreendido com a notícia de uma emboscada à comitiva de Dhlakama, na Estrada Nacional n° 6, em Zimpinga, na província de Manica.
Alguns elementos da força residual de RENAMO morreram no local e muitas viaturas foram incendiadas, incluindo de particulares. Afonso Dhlakama saiu ileso e refugiou-se nas matas da Gorongosa. O incidente aconteceu quando o ex-líder da "Perdiz" se preparava para mais uma ronda de conversações com Filipe Nyusi.
Dias depois, a 8 de outubro de 2015, Dhlakama sai da serra da Gorongosa com o apoio de uma equipa de mediadores nacionais, liderada pelo académico Lourenço do Rosário, para a sua residência na cidade da Beira.
3. Invasão à casa de Dhlakama na Beira
Um dia depois, a 9 de outubro de 2015, a polícia moçambicana invade a casa de Dhlakama e prende vários seguranças do líder da RENAMO, recuperando também seis armas que supostamente teriam sido apreendidas pela guarda da RENAMO na emboscada de Zimpinga.
No fim da operação policial, Dhlakama disse à imprensa: "confirmo, no dia 25 capturamos armas em Amatongas (Zimpinga), afinal é o ministério que nos atacou. Ainda bem".
Este terá sido o evento que agudizou a crise política no país, pois, de seguida, o antigo líder da RENAMO voltou à Serra da Gorongosa e o país mergulhou num conflito militar entre as forças da RENAMO e do Governo.
Viaturas foram atacadas nas estradas nacionais número 1 e 7, no centro de Moçambique. A circulação de pessoas e bens só podia ser feita sob proteção de escoltas militares.
A vida económica do país é colocada à prova. Soam apelos de todos os lados para que ambas as partes ponham fim ao conflito. A RENAMO e o Governo sentaram-se à mesa de diálogo, com o apoio de mediadores internacionais, para ajudar a pôr fim às hostilidades no país.
Na lista de exigências do maior partido da oposição está o pacote de descentralização do Estado, a lei das autarquias e a reintegração dos guerrilheiros da RENAMO nas forças de segurança.
Mas os resultados das conversações teimam em aparecer, até que, a 26 de dezembro de 2016, Dhlakama e o Presidente Nyusi conversam ao telefone.
No dia a seguir, Dhlakama anuncia uma trégua: "Anuncio a cessação das hostilidades militares a partir das 00:00 de quarta-feira. Em todo o território moçambicano, não haverá ataques entre as forças armadas da RENAMO e as Forças Armadas de Moçambique", disse na altura, em teleconferência, Afonso Dhlakama a partir de Gorongosa.
4. Encontro na Gorongosa
O diálogo político para a paz efetiva continua a decorrer ao mais alto nível, enquanto vigora a trégua por tempo indeterminado.
A 6 de agosto de 2017, o Presidente moçambicano e o ex-líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, encontram-se na Gorongosa. Ambos concordam em manter as conversações e foi criada uma comissão para o monitoramento da cessão das hostilidades.
5. Morte de Dhlakama e prosseguimento do diálogo
A 3 de maio de 2018, morre Afonso Dhlakama, vítima de doença. Mas deixa o dossier da paz bem encaminhado.
A RENAMO indica interinamente Ossufo Momade para a liderança da RENAMO. Uma das principais tarefas de Momade é dar seguimento aos contactos com o chefe do Estado para a cessão definitiva das hostilidades.
São reportados avanços e recuos. E pairam incertezas sobre o destino do país. Houve vários encontros entre Nyusi e Momade, sem resultados palpáveis, até que, a 2 de junho deste ano, os dois dirigentes voltaram a encontrar-se na cidade de Chimoio, no centro de Moçambique.
Acordam arrancar com o processo de desarmamento e de reintegração dos guerrilheiros da RENAMO, e decidem assinar um acordo de paz definitivo em agosto. É o que deverá acontecer esta quinta-feira (1 de agosto de 2019).
"Neste documento, as duas partes são responsabilizadas por se abster de todos os atos hostis ou ataques militares contra forças, posições ou propriedades e contra a população em geral", afirmou Nyusi.